domingo, 28 de julho de 2013

A origem do colarinho clerical



Estava vendo TV hoje quando meu filho perguntou por que eu não usava mais aquele colarinho de padre (colarinho clerical). Disse a ele que quem inventou aquela roupa foram os presbiterianos, e todo mundo começou a usar, e quem mais usa hoje são os padres. O uso da camisa de colarinho clerical é algo mais protestantes que os evangélicos imaginam e associam à Igreja Católica Romana. Mas de onde veio a camisa de colarinho clerical?


O colarinho clerical foi inventado pelo Rev. Dr. Donald McLeod (cf. citação do Glasgow Herald de 1894). Além disso, a data de 1827, dada para a invenção do colarinho destacável não é uma referência ao uso pelo clero das golas destacáveis, mas simplesmente golas destacáveis nas camisas que todos usavam.

Agora, é o Rev. Dr. Donald McLeod de Glasgow durante a última metade do século 19 que passa a usar o modelo que hoje está difundido em todo mundo como "gola de padre". O Dr. McLeod foi moderador da Assembléia Geral da The Scotland Kirk (1895) e fez uma série de palestras intituladas: "Doutrina e Validade do Ministério e dos Sacramentos da Igreja Nacional da Escócia." onde pelo uso que fez começou a difundi-las em toda a Escócia. 

Então, graças Rev. Dr. McLeod, o inventor da camisa de colarinho clerical (clergyman) esta uma floração Presbiteriana virou universal.

Por Jouberto Heringer


quinta-feira, 25 de julho de 2013

Os discípulos no pentecostes de Atos 2, entraram no "reteté"?



Quando eu pensei que já tinha escutado todos os argumentos em favor das piruetas e coreografias que "evangélicos" fazem durante o culto, me deparei com esta: quando o Espírito desceu em Pentecostes sobre os apóstolos, eles se comportaram como bêbados, pulando, dançando, caindo e girando, pois foi esta a impressão que a multidão teve: "Todos, atônitos e perplexos, interpelavam uns aos outros: Que quer isto dizer? Outros, porém, zombando, diziam: Estão embriagados" Atos 2.12-13.



Então, tá. Mas, será que foi isto mesmo o que ocorreu?

Estes dois versículos expressam as diferentes opiniões da multidão sobre aquele fato estranho, que homens incultos estavam falando em idiomas das diversas nações ali representadas. 

Uma parte da multidão estava confusa, sem saber como pessoas ignorantes podiam fazer aquilo. Eles estavam realmente intrigados com o ocorrido e abertos para ouvir a explicação que Pedro haveria de dar em seguida, em seu sermão.

Mas, uma parte da multidão era de zombadores, gente que não percebeu a seriedade do que estava acontecendo. E zombando, disseram que os apóstolos estavam bêbados, isto é, dizendo coisas sem sentido como os bêbados costumam dizer. Era esta a explicação que eles acharam para o fenômeno. Algo semelhante ao que Paulo diz, que se um incrédulo entrar na igreja quando todos estiverem falando em línguas ao mesmo tempo, ele vai dizer que estão loucos - algo perto de bêbados (1Co 14.23). 

Os zombadores disseram que eles estavam bêbados não porque eles estavam, como alguns bêbados, cantando, dançando, caindo, girando, gesticulando, pulando, mas porque estavam falando coisas incompreensíveis, palavras sem sentido - para os zombadores. Não tinha nada a ver com a postura e comportamento deles, mas com as coisas que estavam dizendo.

Portanto, não faz o menor sentido usar a opinião dos zombadores de Pentecostes para justificar que hoje os crentes, cheios do Espírito, dançam, pulam, caem, giram, gritam.

Na verdade, Paulo diz, "não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espirito" (Ef 5.18), o que prova que ser cheio do Espírito é exatamente o contrário do comportamento de bêbados.

"Errais, não conhecendo as Escrituras e nem o poder de Deus" (Jesus).



quarta-feira, 24 de julho de 2013

Como as pessoas do antigo testamento foram salvas?



Muitos cristãos se questionam em relação a isso, dizendo, “como as pessoas do antigo testamento foram salvas, se Jesus ainda não tinha vindo? A graça de Deus já vigorava na antiga aliança?”.

A resposta é sim. A redenção da humanidade precede a própria criação, antes dos pilares da terra serem estabelecidos, o valor atemporal do sacrifício de Cristo já havia sido estabelecido como um sinal da redenção do homem.

O valor do sacrifício de Cristo é pré-mundo, de forma que Deus nos elegeu nEle antes do mundo ser mundo:

“Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor.” Efésios 1:4

Em relação à graça, veja o que Paulo diz:

“que nos salvou e nos chamou com uma santa vocação, não em virtude das nossas obras, mas por causa da sua própria determinação e graça. Esta graça nos foi dada em Cristo Jesus desde os tempos eternos,

sendo agora revelada pela manifestação de nosso Salvador, Cristo Jesus. Ele tornou inoperante a morte e trouxe à luz a vida e a imortalidade por meio do evangelho.” 2 Timóteo 1:9-10

Paulo está dizendo que a graça de Cristo foi dada aos homens desde os tempos eternos, mas que só foi revelada pela manifestação de nosso Senhor (primeira vinda).

Em outras palavras, desde o começo da humanidade, o homem é salvo pela graça, através de Cristo; entendemos que Deus levava em consideração o sacrifício de Cristo na salvação das pessoas que abraçavam a fé, mesmo no antigo testamento, de forma que aqueles que depositavam sua esperança no messias redentor, que havia sido prometido desde o Éden, alcançavam, pela graça de Deus e pelo sacrifício de valor ATEMPORAL (fora do tempo) de Cristo, a salvação de suas vidas.

Não existem dois deuses, ou um “Deus” bipolar, nas escrituras sagradas, que antes de Cristo nos salvava por meio da lei, e que a partir de Cristo, nos salva mediante a graça. Não. Sempre foi pela graça, mediante a fé! A lei foi dada com o intuito de mostrar ao homem sua incapacidade de atender as exigências de um Deus Justo e Santo; Cristo veio, e cumpriu as exigências que aos homens era impossível, Ele revelou Sua graça, e comprou com Seu sangue uma Igreja que Ele amou, adornou, purificou, justificou, redimiu, e que por fim, glorificará, para louvor e glória de Seu nome. A Ele seja a Honra e a Glória!

Até a próxima...


quinta-feira, 18 de julho de 2013

Tatuagens, piercings e brincos, pode ou não pode?



Muitos cristãos, principalmente os neófitos, se questionam a respeito deste tema, que causa tanta polêmica e controvérsia entre líderes e membros das mais diferentes denominações.

Porém, a verdade é que não existe sequer uma única passagem na bíblia que proíbe o cristão de usar brincos, cordões, tatuagens, piercings, maquiagens, e etc., tanto em homens quanto em mulheres.

Talvez alguém se utilize do versículo abaixo para dizer que tatuagem é pecado, mas, vamos analisar o texto:

“Pelos mortos não dareis golpes na vossa carne; nem fareis marca alguma sobre vós. Eu sou o SENHOR.” Levítico 19:28

Observe qual é a condição imposta no texto para não se fazer cortes ou marcas no corpo, “Pelos mortos”, a necromancia e a adoração aos mortos era algo comum naquela época entre os povos pagãos, e é neste sentido que a lei proibia o povo de Israel de marcarem seus corpos, em relação ao culto pagão aos mortos e etc., basta observar o contexto.

Até porque, se formos seguir isso á risca, então teremos que obedecer também o versículo anterior desta mesma passagem, que diz:

“Não cortem o cabelo dos lados da cabeça, nem aparem as pontas da barba.” Levítico 19:27

Nesta lógica, quem corta os cabelos do lado e quem apara a barba, também está em pecado. O nome disso é LEGALISMO, fuja!

Talvez, alguns outros irão dizer que o corpo é templo do Espírito Santo, e aquele blá blá blá todo, fora de contexto.. Mas, vamos analisar este contexto também:

“Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” 1 Coríntios 6:19

Agora, analise o contexto, e veja sobre o que Paulo está dizendo que seria um pecado contra o templo do Espírito Santo:

“Mas o corpo não é para a prostituição, senão para o Senhor, e o Senhor para o corpo.” 1 Coríntios 6:13

“Fugi da prostituição. Todo o pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo.” 1 Coríntios 6:18

Pecado contra o templo do Espírito Santo, segundo Paulo e segundo a bíblia, é a prostituição, a promiscuidade, e coisas do tipo, pois, “todo o pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que SE PROSTITUI peca contra o seu próprio corpo.” 1 Coríntios 6:18

Neste mesmo contexto se encontra aquele famoso bordão gospel: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm.” 1 Coríntios 6:12

Ainda existem aqueles que dizem: “mas nós não devemos fazer nada que escandalize nossos irmãos.”, mas, afinal, o que seria esse tal de “escândalo”?

No livro de Sofonias capítulo 1 versículo 3, há uma passagem bem interessante, onde a palavra “escândalo” em algumas versões, está traduzida por “tropeço”. Esse é o sentido real do escândalo bíblico; é aquilo que faz uma outra pessoa tropeçar, aquilo que derruba alguém da fé, aquilo que impede que uma pessoa se aproxime dos caminhos de Deus.

Toda essa questão de “escândalo” precisa ser analisada à luz desse contexto, aquilo que eu estou fazendo derruba alguém da fé? Por exemplo, você acha que uma tatuagem, brinco, piercings, e etc., derruba alguém da fé? Se um crente olhar pra uma tatuagem, como a sua fé pode ficar abalada com isso? Ele no máximo vai dizer que tal pessoa não é um cristão de verdade ou coisa do tipo. Mas é impossível que um verdadeiro cristão tenha sua fé abalada por um desenho na pele de outras pessoas.

Mas o que poderia se um escândalo em relação a tatuagens, brincos, e etc.? Por exemplo, um cristão que desobedece seus pais e faz uma tatuagem, pode estar provocando um escândalo, que fará com que toda a sua família fique longe do caminho da verdade. Percebeu como os limites da nossa liberdade são bem relativos?

Alguns podem dizer: “mas se alguma atitude minha fizer um irmão ou irmã pecar, eu estarei sendo motivo de escândalo e tropeço”. Se você pensar por essa ótica, então tudo que Jesus fez foi escândalo. Pois ele levou os fariseus a pecarem o tempo todo ao o odiarem.

Agora que você já conhece o verdadeiro sentido que os versículos acima se referem, segue o conselho:

Apesar de brincos, tatuagens e etc., não serem pecado segundo a bíblia, vivemos em uma sociedade que ainda possui preconceitos em relação a isso, por exemplo, dependendo do lugar e da tatuagem que você fizer em seu corpo, poderá ser mais difícil de você conseguir um emprego e etc.

Analise tudo isso com sabedoria, e peça orientação a Deus, para que você possa tomar uma decisão correta. Lembrando que tudo em nossas vidas deve visar a glória de Deus. 1 Co 10:31

E vai aqui um conselho meu e de Paulo sobre tudo isso: “Pois, por que minha liberdade deve ser julgada pela consciência dos outros?” 1 Coríntios 10:29

Até a próxima...

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Uma reflexão sobre a conduta teológica



"Ainda que eu fale as línguas dos Reformadores e dos teólogos profissionais, se eu não tiver fé pessoal em Cristo, minha teologia não será nada além de uma barulhenta batida de uma corda de tambor.

E ainda que eu tenha poderes analíticos e o dom de criar coerentes sistemas conceituais de teologia, de modo a eliminar objeções liberais, se eu não tiver esperança pessoal em Deus, nada serei.

E ainda que eu me proponha a resolver o debate entre supra e infralapsarianismo, e defender a inerrância, e aprender o Catecismo de Westminster, sim, até mesmo o Maior, de modo que o recite de cor, de frente para trás e de trás para frente, e eu não tiver amor, nada disso me valerá."

Kevin Vanhoozer


domingo, 7 de julho de 2013

Poligamia e Casamento Gay



Recentemente minha atenção foi despertada para este assunto por um ativista gay que veio aqui no blog Tempora-Mores questionar minha afirmação de que o padrão bíblico é o casamento heterossexual e monogâmico. “Como assim?” questionou o sábio e entendido ativista (que se declarou ex-evangélico), “no Antigo Testamento temos a poligamia como modelo de casamento usado por homens como Abraão, Davi e Salomão, e o silêncio cúmplice de Deus sobre suas mulheres e concubinas”. E soltou sua conclusão, que da mesma forma que Deus no passado alterou o padrão de casamento, da monogamia para a poligamia, podia também em nossos dias alterar o casamento heterossexual para homoafetivo. Então, tá.

Como eu não havia antecipado este argumento no post sobre teologia gay, achei que deveria dar alguma atenção ao mesmo e escrever algo sobre poligamia. Aos fatos, então.
Encontramos no Antigo Testamento diversos exemplos de poligamia. Os mais conhecidos são estes: 
  • Lameque – duas esposas: Ada e Zilá (Gn 4.19).
  • Patriarca Abraão – três esposas: Sara, Agar, Quetura e várias concubinas (Gn 16.1-3; 25.1-6).
  • Esaú – três esposas: Judite, Basemate e Maalate (Gn 26.34-35 e 28.9).
  • Patriarca Jacó – duas esposas: Raquel e Lia, e duas concubinas: Bila e Zilpa (Gn 29.21-35).
  • Elcana – duas esposas: Ana e Penina (1Sm 1.1-2).
  • Juiz Gideão – muitas esposas e concubinas (Jz 8.30).
  • Rei Davi – sete esposas: Mical, Abigail, Ainoã, Maaca, Hagite, Abital, Eglá e mais outras mulheres e concubinas (1Sm 25.40-43; 2Sm 3.2-5; 5.13; 2Cr 14.3).
  • Rei Salomão – a filha de Faraó, setecentas outras esposas e trezentas concubinas (1Rs 3.1; 11.1-3).
  • Rei Acabe – uma esposa: Jezabel e outras mulheres e concubinas (1Rs 16.31; 20.2-5).
  • Rei Abias – catorze mulheres (2Cr 13:21).
  • Rei Roboão – duas esposas: Maalate, Maaca, mais dezoito outras mulheres e sessenta concubinas (2Cr 11.21). 
  • Rei Joás – duas mulheres (2Cr 24.1-3).
  • Rei Joaquim – muitas mulheres (2Cr 24.15).
Estes fatos levantam várias perguntas, sendo a mais importante esta: Deus sancionou e aprovou estes casamentos poligâmicos? Se não, por que não há uma proibição clara da parte dele? Seu silêncio significa que o modelo de casamento pode variar com a cultura – monogâmico, heterossexual, poligâmico, homossexual – e que isto pouco importa para Deus? Em resposta ofereço os seguintes pontos como resultado do meu entendimento destes textos acima e de outros referentes à poligamia no Antigo e Novo Testamento.

1. Sem dúvida alguma, o padrão divino para o casamento sempre foi a monogamia heterossexual, isto é, um homem e uma mulher: “Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea... Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando- se os dois uma só carne” (Gn 2.18-25).

2. O desvio deste padrão ocorreu somente depois da queda de Adão e Eva (Gn 3), começando com Lameque, o assassino vingativo, filho de Caim (Gn 4). Depois dele, a poligamia foi praticada por diversos motivos. Entre os exemplos de poligamia no Antigo Testamento, encontramos alguns que eram políticos, ou seja, para selar tratados internacionais, como Salomão que se casou com a filha de Faraó (1Rs 3.1) e Acabe que casou com Jezabel, filha do rei dos sidônios (1Rs 16.31), além das mulheres que já tinham. Há outros casos em que o desejo de ter filhos e preservar a descendência parece ter motivado a aquisição de mais uma esposa ou concubina, no caso da esterilidade da primeira esposa, como foi o caso de Sarai ter trazido sua serva egípcia Agar para Abraão (Gn 16.1-4), costume praticado no Antigo Oriente. Provavelmente foi o mesmo caso de Elcana, casado com Ana (estéril) e depois com Penina (1Sm 1.1-2). Havia também o desejo de ter muitos filhos em caso de guerra (cf. Jz 8.30; 2Sm 3.2-5; 1Cr 7.4, 11.23, etc.). Nenhum destes casos, porém, justifica a poligamia, pois se trata de um desvio do padrão monogâmico. 

3. Apesar do surgimento da poligamia cedo na história de Israel, a monogamia continuou a regra entre os israelitas e a poligamia, a exceção. Abraão mandou seu servo conseguir uma esposa para seu filho Isaque (Gn 24.37). Na genealogia dos descendentes de Judá, de entre dezenas de nomes, apenas um é citado como tendo tido duas mulheres, Asur (1Cr 4.5). No livro de Provérbios encontramos o encorajamento ao casamento monogâmico (Pv. 5.15-20; 12.4; 19.14). A ode feita à mulher virtuosa em Provérbios 31 pressupõe que ela é a única esposa do marido felizardo. Mesmo que Cantares tenha sido escrito por um polígamo, que foi Salomão, transparece claramente dele que o casamento é entre um homem e uma mulher, figura da relação de Deus com seu povo Israel. A poligamia, por razões econômicas, acontecia quase que exclusivamente entre os ricos, como os juízes e reis.

4. Os profetas tomam o casamento monogâmico para ilustrar a relação entre Deus e seu povo Israel (Jr 2.1-2; Os 3.1-5; Is 54.1-8; Jr 3.20). O profeta Malaquias denuncia a prática que havia em seus dias dos judeus se separarem de sua esposa para casarem com estrangeiras, mostrando assim que a poligamia não era o padrão estabelecido e muito menos o padrão comum e normal em Israel (Ml 2.13-16).

5. A lei de Moisés trazia diversas restrições e cuidados quanto à poligamia em Israel. A mulher israelita que fosse comprada para ser a segunda esposa teria os mesmos direitos que a primeira e seus filhos seriam igualmente herdeiros (Ex 21.7-11). O filho primogênito, ainda que da esposa aborrecida, teria o direito de herança acima do filho da esposa amada (Dt 21.15-17). Um homem casado não poderia casar com a irmã da sua esposa, o que provocaria a rivalidade entre ambas (Lv 18.18; cf. Gn 30.1). 

6. Vários destes exemplos de famílias poligâmicas registrados no Antigo Testamento são acompanhados dos problemas que o sistema inevitavelmente causava. Os judeus casados com mulheres pagãs eram levados a adorar os deuses delas e assim pecar contra Deus. Havia uma advertência na lei de Moisés aos futuros reis de Israel contra a poligamia neste sentido: “Tampouco para si multiplicará mulheres, para que o seu coração se não desvie” (Dt 17.17), conselho este que não foi seguido por Salomão, cujas muitas mulheres pagãs o levaram à idolatria em sua velhice (1Rs 11.1-8). Foi assim que Neemias interpretou o episódio de Salomão e suas muitas mulheres, quando proibiu os judeus depois do cativeiro de multiplicar esposas pagãs (Ne 13.25-27).

7. Além do risco da apostasia, a poligamia trazia profundos conflitos nas famílias poligâmicas. Havia ciúmes entre as mulheres, que disputavam entre si o amor do marido e competiam em número de filhos (Gn 16.4; 1Sm 1.5-8; Gn 30.1-26). Podemos ainda mencionar a angústia que as mulheres pagãs de Esaú trouxeram a seus pais (Gn 26.34-35). O marido acabava gostando mais de uma que da outra, favorecendo a amada e desprezando sua rival e seus filhos (Gn 29.30; 1Sm 1.5; 2Cr 11.21), o que levou a lei de Moisés, para amenizar esta situação, a estabelecer a lei dos filhos da aborrecida (Dt 21.15-17). Outro problema trazido pela poligamia dos reis de Israel era a briga entre os filhos das diversas mulheres quanto à sucessão, muito bem exemplificada na sucessão de Davi, veja 1Reis 1. 

8. No Novo Testamento na época de Jesus a monogamia era claramente o padrão entre os judeus. Quando alguns fariseus vieram experimentar Jesus com uma pergunta capciosa sobre o divórcio, o Senhor respondeu tendo o casamento monogâmico como pressuposto comum e aceito: “Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne? De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem” (Mt 19.3-19).

9. Nas igrejas cristãs entre os gentios, o padrão monogâmico estava já estabelecido, embora na sociedade grega a poligamia fosse conhecida e praticada. Escrevendo aos coríntios Paulo declara: “Quanto ao que me escrevestes, é bom que o homem não toque em mulher; mas, por causa da impureza, cada um tenha a sua própria esposa, e cada uma, o seu próprio marido” (1Co 7.1-2). Aos Efésios, ele compara a relação entre o marido e a esposa à própria relação entre Cristo e sua Igreja: “Eis por que deixará o homem a seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher, e se tornarão os dois uma só carne. Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja” (Ef 5.22-33).

10. Paulo claramente proíbe que os líderes das igrejas gentílicas fossem polígamos ou bígamos. Os bispos/presbíteros tinham de ser “esposos de uma só mulher” (1Tm 3.2; Tt 1.3-5) bem como os diáconos (1Tm 3.12).

Portanto, não há dúvida, em meu entender, que o padrão de Deus sempre foi o casamento monogâmico heterossexual, estabelecido na criação, e que a poligamia do Antigo Testamento foi um desvio deste padrão, em decorrência do pecado que entrou no mundo pela queda de Adão. Em Cristo, Deus restaura o casamento à sua forma original.

Contudo, pode parecer que Deus aprovou ou sancionou a poligamia, considerando que a lei de Moisés trazia regulamentações referentes a ela e que não há uma proibição direta de Deus contra a poligamia. Pode ser que nunca venhamos a entender completamente o silêncio de Deus neste assunto, mas uma coisa é certa: ele não significa que o assunto é indiferente para o Senhor e nem que “quem cala consente”.

1. As regulamentações da lei de Moisés sobre a poligamia não podem ser vistas como uma aprovação tácita da parte de Deus quanto ao casamento poligâmico, uma vez que este nunca foi o padrão por ele estabelecido. Trata-se da misericórdia de Deus protegendo as esposas e filhos de casamentos poligâmicos, uma amenização de uma distorção do casamento até a chegada do Messias. 

2. Deus nos revela sua vontade de maneira gradual e progressiva nas Escrituras. No Antigo Testamento ele se revelou em figuras, tipos, promessas. A sua revelação final e definitiva se encontra no Novo Testamento. Antes de Cristo ele suportou sacrifícios de animais, passou leis referentes a comidas, o sistema de escravidão e levirato, o apedrejamento de determinados pecados, a lei de talião (olho por olho),  o divórcio por qualquer motivo, etc. A poligamia deve ser vista neste contexto, como uma das coisas que Deus suportou na antiga dispensação e que foi definitivamente abolida em Cristo, à semelhança de várias outras. 

3. A encarnação e manifestação de Cristo ao mundo trouxe à luz a verdade outrora oculta, agora revelada pelos apóstolos e profetas, que Cristo é o cabeça de sua igreja, um povo único, composto de pessoas de todas as raças, tribos e nações, como o homem é o cabeça da mulher. E que a relação de amor-submissão entre marido e mulher é uma expressão da relação amor-submissão entre Cristo e sua igreja. Portanto, a partir do evento de Cristo, Deus não mais tolera nem suporta a poligamia entre seu povo, como suportou pacientemente no período anterior à sua vinda, pois sua vontade quanto a isto é em Cristo e sua igreja plenamente revelada. Em Cristo restaura-se o padrão original estabelecido por Deus no jardim.

4. Deus pode demonstrar a sua vontade sobre um assunto simplesmente registrando os males associados a ele, como é o caso da poligamia. Apostasia, ciúmes, invejas, disputas entre mulheres e filhos acompanham o histórico da poligamia entre os israelitas. A evidência cumulativa depõe contra a poligamia, mesmo que Deus não tenha se pronunciado expressamente contra ela. 

5. Aqui é preciso dizer que a revelação divina se encerrou com o cânon do Novo Testamento, onde o casamento monogâmico é claramente estabelecido como a vontade final de Deus para seu povo e a humanidade em geral. Portanto, não podemos aceitar que Deus, em nossos dias, esteja mudando o conceito de casamento para incluir o casamento homossexual, uma vez que o homossexualismo é claramente condenado em toda a Escritura canônica e a mesma se encontra definitivamente encerrada. Sola Scriptura!

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