terça-feira, 12 de agosto de 2014

Deus está em silêncio?



Muitas pessoas hoje em dia falam em nome de Deus, parecem saber tudo o que ele quer ou exige, mas o que Deus tem, de fato, falado? 

Olhando para a situação do nosso mundo, não parece, muitas vezes, que Deus está em silêncio? Não parece que ele guarda silêncio sobre os conflitos no Oriente Médio ou sobre os aviões que são derrubados? Ou mesmo sobre toda a corrupção do gênero humano, os assassinatos, a violência desmedida que toma nossas ruas e ceifa tantas vidas? Por que Deus não se manifesta a respeito da decadência moral de um país inteiro modelado pela “cultura" da novela das oito? Por que não derrama logo fogo e enxofre sobre os sodomitas do presente?

Penso que há quatro aspectos a respeito do “silêncio" de Deus que devem ser considerados. 

Em primeiro lugar, não significa conivência. No salmo 50, Deus descreveu pecados típicos dos nossos dias como aborrecer a disciplina (v. 17), ter prazer em ver o ladrão se dar bem (v. 18), apoiar os adúlteros (v. 18), falar mal dos outros, inclusive das pessoas mais próximas (v. 19), então complementou: "Tens feito estas coisas, e eu me calei; pensavas que eu era teu igual; mas eu te arguirei e porei tudo à tua vista” (Sl 50.20). Ou seja, o silêncio de Deus não significa conivência com os pecados humanos.

Em segundo lugar, o silêncio de Deus significa “disciplina”. Seria melhor que ele gritasse, condenasse, exigisse arrependimento, mas quando ele se cala, significa que entregou os homens à sua própria sorte, ou às mãos dos inimigos (Ne 9.30). Em Romanos 1.18-25, o Apóstolo Paulo descreve a impiedade dos homens daqueles dias que haviam rejeitado o conhecimento do Deus verdadeiro por causa dos ídolos. A consequência está nos versos 26-28: “Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames; porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza; semelhantemente, os homens também, deixando o contacto natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro. E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes”. O estado da sociedade atual é o resultado do silêncio de Deus. Quando Deus se cala, quando entrega os homens a si mesmos, não há esperança.

Em terceiro lugar, o silêncio de Deus nunca é definitivo. O profeta Isaías falou em nome de Deus: "Por muito tempo me calei, estive em silêncio e me contive; mas agora darei gritos como a parturiente, e ao mesmo tempo ofegarei, e estarei esbaforido. Os montes e outeiros devastarei e toda a sua erva farei secar; tornarei os rios em terra firme e secarei os lagos. (Is 42.14-15). Para aqueles que desdenham do juízo, que se atrevem a viver despreocupados, pois julgam que Deus está calado, vale a advertência.

E, finalmente, na verdade, Deus não precisa trovejar do alto com sua voz estrondosa, porque ele já falou tudo o que é necessário. Na parábola do rico e Lázaro, do inferno, o rico suplica que Lázaro volte a terra para alertar seus irmãos. A resposta celeste é que os irmãos têm “Moisés e os profetas” (Lc 16.29), ou seja, as Escrituras Sagradas. Mas o rico perdido não está satisfeito e insiste que se alguém voltar dentre os mortos, as pessoas ouvirão. A resposta divina é surpreendente: "Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos” (Lc 16.31). 

O que mais Deus precisaria falar para que as pessoas entendam as escolhas erradas da vida e se voltem para o que é certo? O que mais ele poderia dizer sobre salvação ou condenação? Temos 66 livros que reúnem tudo o que Deus já falou sobre o início e o fim do mundo, e principalmente, sobre o ponto central da história, onde se eleva uma cruz, dividindo a história, separando os homens à direita e à esquerda, conduzindo os arrependidos ao paraíso num piscar de olhos. 

Deus fala na Escritura. Mas quem tem ouvidos para ouvir?

Por - Leandro Lima