Infelizmente é comum
ouvirmos essa expressão no meio cristão, isso quando ela também não é usada por
outras pessoas para dizerem: “Fulano perdeu a salvação”.
Gostaria de iniciar esse
texto dizendo o seguinte: a salvação não
é um objeto ou um chaveiro que cai acidentalmente do seu bolso fazendo com que você
venha perdê-la. Por isso muito cuidado ao dizer “eu perdi minha salvação”
ou “fulano perdeu a salvação dele”.
A
segurança do cristão:
A segurança está baseada na
graça de Deus e no fato de que a vida eterna é um dom eterno. Quando uma pessoa
crê em Cristo, é levada a ter um relacionamento com Deus, que a certifica da
segurança de sua salvação.
Obviamente isso é verdade
somente para as pessoas que nasceram de
novo. Há os que professam a fé, mas não possuem vida. Às vezes, é possível fazer
um julgamento razoável (e até com acerto) de se determinada pessoa apenas
professa ter ou se, de fato, possui a vida eterna. Outras vezes isso não é possível,
devemos analisar se tal pessoa possui de fato os frutos do Espírito e leva uma
vida de comunhão com Deus. A salvação do regenerado é garantida por seu
relacionamento com Deus, por meio da fé.
1- Razões de segurança relacionadas ao Pai:
a) Seu
propósito - O propósito de Deus era glorificar o mesmo
grupo que Ele predestinou, chamou e justificou (Rm 8:30). Essa afirmação ousada
não poderia ser feita se algum membro desse grupo pudesse perder a salvação. Se
assim fosse, então aqueles que Deus justificou poderia não ser os mesmos que
Ele glorificou. Contudo, o texto diz que são os mesmos.
b) Seu
poder - Muitos concordariam que o poder de Deus é capaz de
guardar o cristão (e de fato é, Jd 24), mas outros argumentam que esse poder
será retirado se a pessoa renunciar a fé. Contudo, Jesus disse que estamos seguros em
suas mãos e nas mãos do Pai, e que ninguém pode arrancar o cristão desse lugar
de segurança (Jo 10:28,29).
“Ninguém” quer dizer ninguém,
nem mesmo a própria pessoa. A promessa não diz “ninguém, a não ser a própria pessoa”
pode tirar o cristão das mãos de Deus. Ela diz “ninguém”.
2- Razões de segurança relacionadas ao Filho:
a) Sua
morte - Paulo faz duas perguntas em Romanos 8:33,34: “Quem
intentará acusações contra os eleitos de Deus? [...] Quem os condenará?”
Sua resposta, dizendo que ninguém pode fazê-lo, está baseada na morte,
ressurreição, intercessão e advocacia de Cristo (v. 34). Se um pecado qualquer
pode desfazer a salvação de um cristão, então a morte de Cristo não pagou por
aquele pecado. Mas, segundo Paulo, ele pagou. O próprio Senhor disse que não perderia
nenhum daqueles que o Pai lhe deu (Jo 6:39,40). Todo o que nele crê será ressuscitado
no último dia, não somente o que crê e persevera.
b) Suas
orações - O ministério atual de Cristo de intercessão nos céus
possui dois aspectos: um ministério preventivo (intercessão) e um ministério curativo
(advocatício). Sua oração em João 17 ilustra o aspecto preventivo.
Naquele momento, Jesus orou
para que fôssemos guardados do mal
(v. 15), santificados (v.17), para que pudéssemos ficar unidos (v.
21), para que estivéssemos com Ele no
céu (v. 24) e que contemplássemos
sua glória (v. 24). Por causa de sua constante intercessão por nós, ele é
capaz de nos salvar completa e eternamente (Hb 7:25).
A defesa de Jesus entra em
ação quando pecamos (1 Jo 2:1). Eu insisto, se qualquer pecado pode desfazer a
salvação (e, em tese, qualquer um poderia), então Satanás sempre teria uma
causa ganha contra o cristão, quando pecasse (Ap 12:10). Poderia, com justiça,
exigir a condenação eterna do cristão e, se não fosse pelo nosso advogado, estaríamos
condenados.
Porém, o Senhor aponta para
sua obra no Calvário, que removeu a culpa de todos nossos os pecados, aqueles
cometidos antes e depois de nossa salvação. Isso é o bastante para responder às
acusações satânicas. É como diz o poema:
Eu pequei. E imediatamente
depois,
Satanás voou para diante da
presença do Deus Altíssimo.
E ali ele fez uma acusação
injuriosa.
Ele disse: “Essa alma, coisa
feita de barro e relva, pecou.
É verdade que ele carrega
vosso nome.
Mas exijo sua morte, pois tu
mesmo disseste:
“A alma que pecar, essa
morrerá”.
Não será essa sentença
cumprida? Está morta a justiça?
Envie agora essa alma
pecadora a seu destino.
Que outra coisa pode fazer o
justo juiz?”
E assim ele fez, me acusando
dia e noite.
Toda palavra que ele disse,
ó Deus, era verdade!
Então, rapidamente alguém se
levantou da destra de Deus.
Diante dessa glória os anjos
esconderam suas faces.
Ele falou: “Cada i e til da
lei deve ser cumprido;
O pecador culpado deve
morrer!
Mas espere, suponha que toda
sua culpa fosse transferida para mim,
E eu tivesse pago a sua
penalidade!
Veja minhas mãos, meu lado,
meus pés! Um dia eu fui feito pecado por ele.
Morri para que ele pudesse
ser apresentado sem culpa, diante de teu trono!”
E Satanás fugiu. Ele bem
sabia que não poderia suportar tanto amor,
Pois cada palavra dita pelo
meu querido Senhor era verdade! – (Martha
Snell Nicholson)
3- Razões de segurança relacionadas ao Espírito:
a) Ele
regenera - Se nascemos de novo pelo Espírito quando cremos, e se
podemos perder a salvação ao renunciar a fé, esse novo nascimento também
estaria perdido.
b) Ele
habita - Se a salvação pudesse ser perdida, então a presença do
Espírito na vida do cristão seria removida. O cristão ficaria desabitado.
c) Ele
batiza - O Espírito une o cristão ao corpo de Cristo quando crê (1
Co 12:13). Portanto, se a salvação pudesse ser perdida, o cristão precisaria
ser arrancado do corpo de Cristo.
d) Ele
sela - O Espírito sela o cristão até o dia da redenção (Ef
4:30). Se a salvação pode ser perdida, então seu selo não dura até o dia da
redenção, mas somente até o dia do pecado, ou da apostasia, ou ainda da
incredulidade.
É claro que não há base bíblica
para a perda do novo nascimento pelo cristão, nem para o fato de ficar
desabitado, ou ser removido do corpo de Cristo (mutilando assim seu corpo), ou
ainda ter o selo removido. A salvação é eterna e completamente segura para
todos os que creem.
Em resumo: os cristãos pecam
e são advertidos contra uma falsa profissão de fé e imaturidade cristã, mas,
uma vez concedido, Deus jamais toma de volta o dom de sua salvação.
Os cristãos nem sempre
perseveraram em piedade. Pedro não o fez (Gl 2:11). Muitos cristãos de Éfeso tão
pouco conseguiram (At 19:18). Ló também não (2 Pe 2:7). No tribunal de Cristo,
algumas obras serão queimadas e alguns serão salvos “como que pelo fogo” (1
Co 3:15).
Mesmo que cada cristão produza
algum fruto (1 Co 4:5), fica difícil, se não impossível, precisar a quantidade
e a qualidade do que cada um apresentará. Por isso, é difícil fazer qualquer juízo
da condição espiritual de cada um.
Conclusão:
A salvação é um ato da
soberania de Deus e não da capacidade humana de se santificar e, por
conseguinte através de seus esforços conquistá-la.
Você não pode perder aquilo
que não vem de você, que não pertence a você. A salvação não pertence a você
(no sentido de você tê-la conquistado e que por isso tem o domínio sobre ela),
ela é algo que provém de Deus, da soberania de Deus e que pertence a Deus, e
Deus, pela sua graça nos salva, e isto não vem de nós, é dom de Deus
(Ef 2:8).
Por isso, quando você diz
que “perdeu sua salvação”, automaticamente você está dizendo que perdeu algo
que não vem de você e que não está sobre o seu controle ou domínio, e isso faz
com que você negligencie a soberania de Deus na salvação humana, desprezando
assim o sacrifício vicário de Jesus pelos nossos pecados e colocando o homem
como o controlador do seu destino.
Obs: Recomendo que você procure nesse mesmo blog um artigo que publiquei sobre a predestinação, para que você possa entender mais sobre esse assunto soteriológico
Bibliografia:
Ryrie,
Charles Caldwell, 1925 – Teologia Básica – Ao alcance de todos – São Paulo:
Mundo Cristão, 2004
Bíblia
Sagrada