A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER
(1643–46)
CAPÍTULO
1: DA SAGRADAS ESCRITURAS
O
ANTIGO TESTAMENTO
NOVO
TESTAMENTO
CAPÍTULO
2: DE DEUS E DA SANTÍSSIMA TRINDADE
CAPÍTULO
3: DOS ETERNOS DECRETOS DE DEUS
CAPÍTULO
4: DA CRIAÇÃO
CAPÍTULO
5: DA PROVIDÊNCIA
CAPÍTULO
6: DA QUEDA DO HOMEM, DO PECADO E DO SEU CASTIGO
CAPÍTULO
7: DO PACTO DE DEUS COM O HOMEM
CAPÍTULO
8: DE CRISTO, O MEDIADOR
CAPÍTULO
9: DO LIVRE-ARBÍTRIO
CAPÍTULO
10: DA VOCAÇÃO EFICAZ
CAPÍTULO
11: DA JUSTIFICAÇÃO
CAPÍTULO
12: DA ADOÇÃO
CAPÍTULO
13: DA SANTIFICAÇÃO
CAPÍTULO
14: DA FÉ SALVADORA
CAPÍTULO
15: DO ARREPENDIMENTO PARA A VIDA
CAPÍTULO
16: DAS BOAS OBRAS
CAPÍTULO
17: DA PERSEVERANÇA DOS SANTOS
CAPÍTULO
18: DA CERTEZA DA GRAÇA E DA SALVAÇÃO
CAPÍTULO
19: DA LEI DE DEUS
CAPÍTULO
20: DA LIBERDADE CRISTÃ E DA LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA
CAPÍTULO
21: DO CULTO RELIGIOSO E DO DOMINGO
CAPÍTULO
22: DOS JURAMENTOS LEGAIS E DOS VOTOS
CAPÍTULO
23: DO MAGISTRADO CIVIL
CAPÍTULO
24: DO MATRIMÔNIO E DO DIVÓRCIO
CAPÍTULO
25: DA IGREJA
CAPÍTULO
26: DA COMUNHÃO DOS SANTOS
CAPÍTULO
27: DOS SACRAMENTOS
CAPÍTULO
28: DO BATISMO
CAPÍTULO
29: DA CEIA DO SENHOR
CAPÍTULO
30: DAS CENSURAS ECLESIÁSTICAS
CAPÍTULO
31: DOS SÍNODOS E CONCÍLIOS
CAPÍTULO
32: DO ESTADO DO HOMEM DEPOIS DA MORTE E DA RESSURREIÇÃO DOS MORTOS
CAPÍTULO
33: DO JUÍZO FINAL
A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER
(1643–46)
CAPÍTULO
1: DA SAGRADAS ESCRITURAS
1. Ainda que a luz da natureza e as
obras da criação e da providência manifestam de tal modo a bondade, a sabedoria
e o poder de Deus, que os homens sejam inescusáveis, todavia não são suficientes
para dar aquele conhecimento de Deus e de sua vontade, necessário à salvação;
por isso agradou ao Senhor, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e
declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e
propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja
contra a corrupção da carne e contra a maldade de Satanás e do mundo, foi
igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna as Escrituras Sagradas
indispensável, tendo cessado aqueles antigos modos de Deus revelar a sua
vontade ao seu povo.
2. Sob o nome de Escrituras Sagradas, ou
Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Antigo e do Novo
Testamento, que são os seguintes:
O ANTIGO TESTAMENTO
Gênesis
Êxodo
Levítico
Números
Deuteronômio
Josué
Juízes
Rute
1
Samuel
2
Samuel
1
Reis
2
Reis
1 Crônicas
|
2
Crônicas
Esdras
Neemias
Ester
Jó
Salmos
Provérbios
Eclesiastes
Cantares
Isaías
Jeremias
Lamentações
Ezequiel
|
Daniel
Oséias
Joel
Amós
Obadias
Jonas
Miquéias
Naum
Habacuque
Sofonias
Ageu
Zacarias
Malaquias
|
NOVO TESTAMENTO
Mateus
Marcos
Lucas
João
Atos
Romanos
1Coríntios
2Coríntios
Gálatas
Efésios
Filipenses
Colossenses
1Tessalonicenses
2Tessalonicenses
|
1
Timóteo
2
Timóteo
Tito
Filemom
Hebreus
Tiago
1
Pedro
2
Pedro
1
João
2
João
3
João
Judas
Apocalipse
|
Todos eles são dados por inspiração de
Deus para serem a regra de fé e prática.
3. Os livros geralmente chamados
Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do Cânon das
Escrituras; não são, portanto, de autoridade na Igreja de Deus, nem de modo
algum podem ser aprovados ou empregados senão como escritos humanos.
4. A autoridade das Escrituras Sagradas,
razão pela quais deves ser cridas e obedecidas, não depende do testemunho de
qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o
Autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a Palavra de Deus.
5. Pelo Testemunho da Igreja podemos ser
movidos e incitados a um alto e reverente apreço pelas Escrituras Sagradas; a
suprema excelência do seu conteúdo, a eficácia da sua doutrina, a majestade do
seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar
a Deus toda a glória), a plena revelação que faz do único meio de salvar-se o
homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e completas perfeição
são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a Palavra de
Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e
divina autoridade provêm da operação interna do Espírito Santo que pela Palavra
e com a Palavra testifica em nossos corações.
6. Todo o conselho de Deus concernente a
todas as coisas necessárias para a sua glória e para a salvação, fé e vida do
homem, ou é expressamente declarado nas Escrituras ou pode ser lógica e
claramente delas deduzido. Às Escrituras nada se acrescentará em tempo algum,
nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens;
reconhecemos, entretanto, ser necessária a iluminação interior do Espírito de
Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na Palavra, e que há
algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comuns
às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da
natureza e pela prudência cristã, segundo as regras da Palavra, que sempre
devem ser observadas.
7. Nas Escrituras não são todas as
coisas em si, nem do mesmo modo evidentes a todos; contudo, as coisas que
precisam ser obedecidas, cridas e observadas para a salvação, em uma ou outra
passagem das Escrituras são tão claramente expostas e aplicadas, que não só os
doutos, mas ainda os indoutos, no devido uso dos meios comuns, podem alcançar
uma suficiente compreensão delas.
8. O Antigo Testamento em hebraico
(língua nativa do antigo povo de Deus) e o Novo Testamento em grego (a língua
mais geralmente conhecida entre as nações no tempo em que foi escrito), sendo
inspirados imediatamente por Deus, e pelo seu singular cuidado e providência
conservados puros em todos os séculos, são, por isso, autênticos, e assim em
todas as controvérsias religiosas a Igreja deve apelar para eles como um
supremo tribunal; mas, não sendo essas línguas conhecidas por todo o povo de
Deus, que tem direito e interesse nas Escrituras, e que deve, no temor de Deus,
lê-las e estudá-las, esses livros têm de ser traduzidos nas línguas comuns de
todas as nações aonde chegarem, a fim de que, permanecendo nelas abundantemente
a Palavra de Deus, adorem a Deus de modo aceitável e possuam a esperança pela
paciência e conforto das Escrituras.
9. A regra infalível de interpretação
das Escrituras é as próprias Escrituras; portanto, quando houver questão sobre
o verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto das Escrituras (sentido que não
é múltiplo, mas único), esse texto pode ser estudado e compreendido por outros
textos que falem mais claramente.
10. O Juiz Supremo, pelo qual todas as
controvérsias religiosas têm de ser determinadas, e por quem serão examinados
todos os decretos de concílios, todas as opiniões particulares, o Juiz Supremo,
em cuja sentença nos devemos firmar, não pode ser outro senão o Espírito Santo
falando nas Escrituras.
CAPÍTULO 2: DE DEUS E DA SANTÍSSIMA
TRINDADE
1. Há um só Deus vivo e verdadeiro, o
qual é infinito em seu ser e em perfeição. Ele é um Espírito puríssimo,
invisível, sem corpo, sem membros, não sujeito a paixões; é imutável, imenso,
eterno, incompreensível, onipotente, onisciente, santíssimo, completamente
livre e absoluto, e tudo faz segundo o conselho da sua própria vontade, que é
reta e imutável, e para a sua própria glória. É cheio de amor, gracioso,
misericordioso, longânimo, muito bondoso e verdadeiro galardoador dos que o
buscam, e, contudo, justíssimo e terrível em seus juízos, pois odeia todo o
pecado; de modo algum terá por inocente o culpado.
2. Deus tem, em si mesmo, e de si mesmo,
toda a vida, glória, bondade, e bem-aventurança. Ele é todo-suficiente em si e
para si, pois não precisa das criaturas que trouxe à existência; não deriva
delas glória alguma, mas somente manifesta a sua glória nelas, por elas, para
elas e sobre elas. Ele é a única origem de todo ser; dele, por ele e para ele
são todas as coisas e sobre elas tem ele soberano domínio para fazer com elas,
para elas e sobre elas tudo quanto quiser. Todas as coisas estão patentes e
manifestas diante dele; o seu saber é infinito, infalível e independente da
criatura, de sorte que para ele nada é contingente ou incerto. Ele é santíssimo
em todos os seus conselhos, em todas as suas obras e em todos os seus
preceitos. Da parte dos anjos e dos homens e de qualquer outra criatura lhe são
devidos todo culto, todo serviço e toda obediência, que ele houve por bem
exigir deles.
3. Na unidade da Divindade há três
pessoas de uma mesma substância, poder e eternidade: Deus o Pai, Deus o Filho e
Deus o Espírito Santo. O Pai não é de ninguém: não é gerado, nem procedente; o
Filho é eternamente gerado do Pai; o Espírito Santo é eternamente procedente do
Pai e do Filho.
CAPÍTULO 3: DOS ETERNOS DECRETOS DE DEUS
1. Desde toda a eternidade e pelo mui
sábio e santo conselho de sua própria vontade, Deus ordenou livre e
inalteravelmente tudo quanto acontece, porém de modo que nem Deus é o autor do
pecado, nem violentada é à vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou
contingência das causas secundárias, antes estabelecidas.
2. Ainda que sabe tudo quanto pode ou há
de acontecer em todas as circunstâncias imagináveis, Deus não decreta coisa
alguma por havê-la previsto como futura, ou como coisa que havia de acontecer
em tais condições.
3. Pelo decreto de Deus e para a
manifestação da sua glória, alguns homens e alguns anjos são predestinados para
a vida eterna e outros preordenados para a morte eterna.
4. Esses homens e esses anjos, assim
predestinados e preordenados, são particular e imutavelmente designados; o seu
número é tão certo e definido, que não pode ser nem aumentado nem diminuído.
5. Segundo o seu eterno e imutável
propósito, e segundo o santo conselho e beneplácito de sua vontade, antes que
fosse o mundo criado, Deus escolheu em Cristo, para a glória eterna, os homens
que são predestinados para a vida; para o louvor da sua gloriosa graça ele os
escolheu de sua mera e livre graça e amor, e não por previsão de fé, ou de boas
obras e perseverança nelas, ou de qualquer outra coisa na criatura que a isso o
movesse, como condição ou causa.
6. Assim como Deus destinou os eleitos
para a glória, assim também, pelo eterno e mui livre propósito de sua vontade,
preordenou todos os meios conducentes a esse fim; os que, portanto, são
eleitos, achando-se caídos em Adão, são remidos por Cristo, são eficazmente
chamados para a fé em Cristo, pelo seu Espírito que opera no tempo devido, são
justificados, adotados, santificados e guardados pelo seu poder, por meio da fé
salvadora. Além dos eleitos não há nenhum outro que seja remido por Cristo,
eficazmente chamado, justificado, adotado, santificado e salvo.
7. Segundo o inescrutável conselho de
sua própria vontade, pela qual ele concede ou recusa misericórdia, como lhe
apraz, para a glória de seu soberano poder sobre as suas criaturas, para louvor
de sua gloriosa justiça, o resto dos homens foi Deus servido não contemplar e
ordená-los para a desonra e ira por causa de seus pecados.
8. A doutrina deste alto mistério de
predestinação deve ser tratada com especial prudência e cuidado, a fim de que
os homens, atendendo à vontade de Deus, revelada em sua Palavra, e prestando
obediência a ela, possam, pela evidência de sua vocação eficaz, certificar-se
de sua eterna eleição. Assim, a todos os que sinceramente obedecem ao
Evangelho, esta doutrina traz motivo de louvor, reverência e admiração para com
Deus, bem como de humildade, diligência e abundante consolação.
CAPÍTULO 4: DA CRIAÇÃO
1. Ao princípio aprouve a Deus o Pai, o
Filho e o Espírito Santo, para manifestação da glória de seu eterno poder,
sabedoria e bondade, criar ou fazer do nada, no espaço de seis dias, e tudo
muito bom, o mundo e tudo o que nele há, quer as coisas visíveis quer as
invisíveis.
2. Depois de haver feito as outras
criaturas, Deus criou o homem, macho e fêmea, com as almas racionais e imortais,
e dotou-os de inteligência, retidão e perfeita santidade, segundo a sua própria
imagem, tendo a lei de Deus escrita em seus corações e o poder de cumpri-la,
mas com a possibilidade de transgredi-la, sendo deixados à liberdade de sua
própria vontade, que era mutável. Além dessa escrita em seus corações,
receberam o preceito de não comerem da árvore da ciência do bem e do mal;
enquanto obedeceram a este preceito, foram felizes em sua comunhão com Deus e
tiveram domínio sobre as criaturas.
CAPÍTULO 5: DA PROVIDÊNCIA
1. Pela mui sábia e santa providência,
segundo a sua infalível presciência e o livre e imutável conselho de sua
própria vontade, Deus, o grande Criador de todas as coisas, para o louvor da
glória de sua sabedoria, poder, justiça, bondade e misericórdia, sustenta,
dirige, dispõe e governa todas as criaturas, todas as ações delas e todas as
coisas, desde a maior até a menor.
2. Posto que, em relação à presciência e
ao decreto de Deus, que é a causa primária, todas as coisas acontecem imutável
e infalivelmente, contudo, pela mesma providência, Deus ordena que elas
sucedam, necessária, livre ou contingentemente, conforme a natureza das causas
secundárias.
3. Na sua providência comum, Deus
emprega meios; todavia, ele é livre para operar sem eles, sobre eles ou contra
eles, segundo o seu beneplácito.
4. A onipotência, a sabedoria
inescrutável e a bondade infinita de Deus, de tal maneira se manifestam na sua
providência, que esta se estende até a primeira queda e a todos os outros
pecados dos anjos e dos homens, e isto não por uma mera permissão, mas por uma
permissão tal que, para os seus próprios e santos desígnios, sábia e
poderosamente os limita, regula e governa em uma múltipla dispensação; mas essa
permissão é tal, que a pecaminosidade dessas transgressões procede tão somente
da criatura e não de Deus, que, sendo santíssimo e justíssimo, não pode ser o
autor do pecado e nem pode aprová-lo.
5. O muitíssimo sábio, justo e gracioso
Deus muitas vezes deixa, por algum tempo, seus filhos entregues a muitas tentações
e à corrupção de seus próprios corações, para castigá-los pelos seus pecados
anteriores ou fazer-lhes conhecer o poder oculto da corrupção e dolo de seus
corações, a fim de que eles sejam humilhados; para animá-los a dependerem mais
íntima e constantemente do apoio dele e torná-los mais vigilantes contra as
futuras ocasiões de pecar, bem como para vários outros fins justos e santos.
6. Quanto aos homens perversos e ímpios
que Deus, como justo juiz, cega e endurece em razão de pecados anteriores, ele
não só lhes recusa a graça pela qual poderiam ser iluminados em seus
entendimentos e movidos em seus corações, mas às vezes tira os dons que já
possuíam, e os expõe a objetos que, por sua corrupção, tornam ocasiões de
pecado; além disso, os entrega às suas próprias paixões, às tentações do mundo
e ao poder de Satanás; assim, acontece que eles se endurecem sob as influências
dos meios que Deus emprega para o abrandamento dos outros.
7. Como a providência de Deus se
estende, em geral, a todas as criaturas, assim, pois, de um modo muitíssimo
especial, essa mesma providência cuida de sua igreja e tudo dispõe a bem dela.
CAPÍTULO 6: DA QUEDA DO HOMEM, DO PECADO
E DO SEU CASTIGO
1. Nossos primeiros pais seduzidos pela
astúcia e tentação de Satanás, pecaram ao comerem o fruto proibido. Segundo o
seu sábio e santo conselho, foi Deus servido permitir este pecado deles,
havendo determinado ordená-lo para a sua própria glória.
2. Por este pecado eles decaíram de sua
retidão original e da comunhão com Deus, e assim se tornaram mortos em pecado e
inteiramente corrompidos em todas as faculdades e partes do corpo e da alma.
3. Sendo eles o tronco de toda a
humanidade, o delito de seus pecados foi imputado a seus filhos; e a mesma
morte em pecado, bem como a sua natureza corrompida, foram transmitidas a toda
a sua posteridade, que deles procede por geração comum.
4. Desta corrupção original, pela qual
ficamos totalmente indispostos, incapazes e adversos a todo o bem e
inteiramente inclinados a todo o mal, é que procedem todas as transgressões
atuais.
5. Esta corrupção da natureza persiste,
durante esta vida, naqueles que são regenerados; e embora seja ela perdoada e
mortificada por Cristo, todavia ela como os seus impulsos são real e
propriamente pecado.
6. Todo pecado, tanto original como
atual, sendo transgressão da justa lei de Deus e a ela contrário, torna culpado
o pecador, em sua própria natureza, e por essa culpa está sujeito à ira de Deus
e à maldição da lei, e, portanto, sujeito à morte, com todas as misérias espirituais,
temporais e eternas.
CAPÍTULO 7: DO PACTO DE DEUS COM O HOMEM
1. Tão grande é à distância entre Deus e
a criatura, que, embora as criaturas racionais lhe devam obediência como seu
Criador, nunca poderiam fruir nada dele, como bem-aventurança e recompensa,
senão por alguma voluntária condescendência da parte de Deus, a qual
agradou-lhe expressar por meio de um pacto.
2. O primeiro pacto feito com o homem
era um pacto de obras; nesse pacto foi a vida prometida a Adão e, nele, à sua
posteridade, sob a condição de perfeita e pessoal obediência.
3. Tendo-se o homem tornado, pela sua
queda, incapaz de ter vida por meio deste pacto, o Senhor dignou-se a fazer um
segundo pacto, geralmente chamado de pacto da graça; neste pacto da graça ele
livremente oferece aos pecadores a vida e salvação através de Jesus Cristo,
exigindo deles a fé, para que sejam salvos, e prometendo o seu Santo Espírito a
todos os que estão ordenados para a vida, a fim de dispô-los e habilitá-los a
crer.
4. Este pacto da graça é freqüentemente
apresentado nas Escrituras pelo nome de testamento, em referência à morte de
Cristo, o Testador, e à eterna herança, com tudo o que lhe pertence, legada
neste pacto.
5. Este pacto, no tempo da Lei, não foi
administrado como no tempo do Evangelho. Sob a Lei, foi administrado por meio
de promessas, profecias, sacrifícios, da circuncisão, do cordeiro pascal e de
outros tipos e ordenanças dados ao povo judeu, tudo prefigurando Cristo que
havia de vir. Por aquele tempo, essas coisas, pela operação do Espírito Santo,
foram suficientes e eficazes para instruir e edificar os eleitos na fé do
Messias prometido, por quem tinham plena remissão dos pecados e a salvação
eterna; este se chama o Antigo Testamento.
6. Sob o Evangelho, quando Cristo, a
Substância, se manifestou, as ordenanças, nas quais este pacto é ministrado,
passaram a ser a pregação da Palavra e a administração dos Sacramentos do
Batismo e da Ceia do Senhor; por estas ordenanças, posto que em número menor e
administradas com mais simplicidade e menos glória externa, o pacto se
manifesta com mais plenitude, evidência e eficácia espiritual, a todas as
nações - tanto aos judeus como aos gentios. Isto é chamado Novo Testamento. Não
há, pois, dois pactos da graça diferentes em substância, mas um e o mesmo sob
várias dispensações.
CAPÍTULO 8: DE CRISTO, O MEDIADOR
1. Aprouve a Deus, em seu eterno
propósito, escolher e ordenar o Senhor Jesus, seu Filho Unigênito, para ser o
Mediador entre Deus e o homem, o Profeta, Sacerdote e Rei, o Cabeça e Salvador
de sua Igreja, o Herdeiro de todas as coisas e o Juiz do mundo; e deu-lhe,
desde toda a eternidade, um povo para ser sua semente, e para, no tempo devido,
ser por ele remido, chamado, justificado, santificado e glorificado.
2. O Filho de Deus, a segunda Pessoa da
Trindade, sendo verdadeiro e eterno Deus, da mesma substância do Pai e igual a
ele, quando chegou o cumprimento do tempo, tomou sobre si a natureza humana com
todas as suas propriedades essenciais e enfermidades comuns, contudo sem
pecado, sendo concebido pelo poder do Espírito Santo no ventre da Virgem Maria,
e da substância dela. As duas naturezas inteiras, perfeitas e distintas - a
Divindade e a Humanidade - foram inseparavelmente unidas em uma só pessoa, sem
conversão, verdadeiro homem, porém um só Cristo, o único Mediador entre Deus e
o homem.
3. O Senhor Jesus, em sua natureza
humana unida à divina, foi santificado e sem medida ungido com o Espírito
Santo, tendo em si todos os tesouros da sabedoria e da ciência. Aprouve ao Pai
que nele habitasse toda a plenitude, a fim de que, sendo santo, inocente,
incontaminado e cheio de graça e verdade, estivesse perfeitamente preparado
para exercer o ofício de Mediador e Fiador. Este ofício ele não tomou para si,
mas para ele foi chamado pelo Pai, que lhe pôs nas mãos todo o poder e todo o
juízo, e lhe ordenou que os exercesse.
4. Este ofício o Senhor Jesus empreendeu
mui voluntariamente. Para que pudesse exercê-lo, ele se fez sujeito à lei, a
qual cumpriu perfeitamente, padeceu imediatamente em sua alma os mais cruéis
tormentos, e em seu corpo, os mais penosos sofrimentos; foi sepultado e ficou
sob o poder da morte, mas não viu a corrupção; ao terceiro dia ressuscitou dois
mortos, com esse corpo subiu ao céu, onde está sentado à destra do Pai, fazendo
intercessão; de lá voltará no fim do mundo para julgar os homens e os anjos.
5. O Senhor Jesus, pela sua perfeita
obediência e pelo sacrifício de si mesmo, sacrifício que, pelo Eterno Espírito,
ofereceu a Deus uma só vez, satisfez plenamente à justiça de seu Pai, e, para
todos aqueles que o Pai lhe deu, adquiriu não só a reconciliação, como também
uma herança perdurável no Reino dos Céus.
6. Ainda que a obra da redenção não fora
realmente realizada por Cristo senão depois de sua encarnação, contudo a
virtude, a eficácia e os benefícios dela, em todas as épocas sucessivas desde o
princípio do mundo foram comunicados aos eleitos por meio das promessas, tipos
e sacrifícios, pelos quais ele devia esmagar a cabeça da serpente, como o
cordeiro morto desde o princípio do mundo, sendo ele o mesmo ontem, hoje e para
sempre.
7. Cristo, na obra de mediação, age de
conformidade com as suas duas naturezas, fazendo cada uma o que lhe é próprio;
contudo, em razão da unidade de uma pessoa, o que é próprio de uma natureza é,
às vezes, nas Escrituras, atribuído à pessoa denominada pela outra natureza.
8. Cristo, com toda certeza e de forma
eficaz, aplica e comunica a salvação a todos aqueles para quem a adquiriu. Isto
ele consegue, fazendo intercessão por eles e revelando-lhes na Palavra e pela
Palavra os mistérios da salvação, persuadindo-os, eficazmente, pelo seu
Espírito, subjugando todos os seus inimigos por meio de sua onipotência e
sabedoria, da maneira e pelos meios mais condizentes com a sua admirável e
inescrutável dispensação.
CAPÍTULO 9: DO LIVRE-ARBÍTRIO
1. Deus dotou a vontade do homem de tal
liberdade natural, que ela nem é forçada para o bem nem para o mal, nem a isso
é determinada por qualquer necessidade absoluta de sua natureza.
2. O homem, em seu estado de inocência,
tinha a liberdade e o poder de querer e fazer aquilo que é bom e agradável a
Deus; mas era passível de mudança, de sorte que pudesse cair dessa liberdade e
poder.
3. O homem, ao cair no estado de pecado,
perdeu inteiramente todo o poder de vontade quanto a qualquer bem espiritual
que acompanhe a salvação; de sorte que um homem natural, inteiramente contrário
a esse bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu próprio poder,
converter-se ou mesmo preparar-se para isso.
4. Quando Deus converte um pecador e o
transfere para o estado de graça, ele o liberta de sua natural escravidão ao
pecado e, somente por sua graça, o habilita a querer e a fazer com toda a
liberdade o que é espiritualmente bom, mas isso de tal modo que, por causa da
corrupção ainda existente nele, o pecador não faz o bem perfeitamente, nem
deseja somente o que é bom, mas também o que é mau.
5. É no estado de glória que a vontade
do homem se torna perfeita e imutavelmente livre para o bem só.
CAPÍTULO 10: DA VOCAÇÃO EFICAZ
1. Todos aqueles a quem Deus predestinou
para a vida, e só esses, é ele servido chamar eficazmente pela sua Palavra e
pelo seu Espírito, no tempo por ele determinado e aceito, tirando-os daquele
estado de pecado e morte em que estão por natureza para a graça e salvação, em
Jesus Cristo. Isto ele o faz, iluminando os seus entendimentos, espiritual e
salvificamente, a fim de compreenderem as coisas de Deus, tirando-lhes os seus
corações de pedra e dando-lhes corações de carne, renovando as suas vontades e
determinando-as, pela sua onipotência, para aquilo que é bom, e atraindo-os
eficazmente a Jesus Cristo, mas de maneira que eles vêm mui livremente, sendo
para isso dispostos pela sua graça.
2. Esta vocação eficaz provém unicamente
da livre e especial graça de Deus, e não de qualquer coisa prevista no homem;
nesta vocação, o homem é inteiramente passivo, até que, vivificado e renovado
pelo Espírito Santo, fica habilitado a corresponder a ela e a receber a graça
nela oferecida e comunicada.
3. As crianças eleitas que morrem na
infância são regeneradas e salvas por Cristo por meio do Espírito que opera
quando, onde e como lhe apraz. Do mesmo modo são salvas todas as outras pessoas
eleitas incapazes de serem exteriormente chamadas pelo ministério da palavra.
4. Os não eleitos, ainda que chamados
pelo ministério da Palavra e tenham algumas das operações comuns do Espírito,
contudo jamais chegam a Cristo e, portanto, não podem ser salvos; muito menos
poderão ser salvos por qualquer outro meio os que não professam a religião
cristã, por mais diligentes que sejam em padronizar suas vidas de acordo com a
luz da natureza e com a lei da religião que professam; asseverar e manter que o
podem é muito pernicioso e detestável.
CAPÍTULO 11: DA JUSTIFICAÇÃO
1. Os que Deus chama eficazmente, também
livremente justifica. Esta justificação não consiste em Deus infundir neles a
justiça, mas em perdoar os seus pecados e em considerar e aceitá-los como
justos. Deus não os justifica em razão de qualquer coisa neles operada ou por
eles feita mas somente em consideração à obra de Cristo; não lhes imputando
como justiça à própria fé, o ato de crer, ou qualquer outro ato de obediência
evangélica, mas imputando-lhes a obediência e a satisfação de Cristo, quando
eles o recebem e se firmam nele pela fé, fé esta que possuem não como oriunda
de si mesmos, mas como dom de Deus.
2. A fé, assim recebendo e assim
repousando em Cristo e em sua justiça, é o único instrumento da justificação;
contudo, não está sozinha na pessoa justificada, mas sempre acompanhada de
todas as demais graças salvíficas; não é uma fé morta, mas a fé que age através
do amor.
3. Cristo, por meio de sua obediência e
morte, pagou plenamente a dívida de todos que são assim justificados, e, em
favor deles, fez à justiça de seu Pai uma satisfação própria, real e plena.
Contudo, como Cristo foi pelo Pai dado em favor deles, e como a obediência e a
satisfação dele foram aceitas em lugar deles, ambas livremente e não por nada
que neles existe, a justificação deles provém unicamente da livre graça, a fim
de que tanto a perfeita justiça como a graça abundante de Deus possam ser
glorificadas na justificação dos pecadores.
4. Deus, desde toda a eternidade,
decretou justificar todos os eleitos; e Cristo, no cumprimento do tempo, morreu
pelos pecados deles e ressuscitou para a justificação deles; contudo, eles não
são justificados até que o Espírito Santo, no tempo próprio e de fato,
comunica-lhes Cristo.
5. Deus continua a perdoar os pecados
dos que são justificados. Embora eles nunca possam cair do estado de justificação,
poderão, contudo, por seus pecados, incorrer no paternal desagrado de Deus e
ficar privados da luz de sua graça, até que se humilhem, confessem os seus
pecados, peçam perdão e renovem a sua fé e o seu arrependimento.
6. A justificação dos crentes sob o
Antigo Testamento era, em todos estes aspectos, uma e a mesma justificação dos
crentes sob o Novo Testamento.
CAPÍTULO 12: DA ADOÇÃO
1. A todos os que são justificados, Deus
se digna fazer participantes da graça da adoração em e por seu único Filho Jesus
Cristo. Por essa graça, eles são recebidos no número e gozam a liberdade e
privilégios dos filhos de Deus, têm sobre si o nome dele, recebem o Espírito de
adoração, têm acesso, com ousadia, ao trono da graça, e são habilitados e
clamam: “Aba, Pai”; são tratados com piedade, protegidos, providos e corrigidos
por ele, como por um Pai; nunca, porém, abandonados, mas selados para o dia da
redenção, e recebem as promessas como herdeiros da eterna salvação.
CAPÍTULO 13: DA SANTiFICAÇÃO
1. Os que são eficazmente chamados e
regenerados, tendo sido criado neles um novo coração e um novo Espírito, são,
além disso, santificados, real e pessoalmente, pela virtude da morte e
ressurreição de Cristo, por sua Palavra e por seu Espírito, que neles habita; o
domínio de todo o corpo do pecado é destruído, as suas várias concupiscências
são mais e mais enfraquecidas e mortificadas, e eles são mais e mais
vivificados e fortalecidos em todas as graças salvadoras, para a prática da
verdadeira santidade sem a qual ninguém verá o Senhor.
2. Esta santificação é no homem todo,
porém imperfeita nesta vida; ainda subsiste em todas as partes dele restos da
corrupção, e daí nasceu uma guerra contínua e irreconciliável: a carne lutando
contra o Espírito, e o Espírito contra a carne.
3. Nesta guerra, embora prevaleçam por
algum tempo as corrupções que restam, contudo, pelo contínuo socorro da
eficácia do santificador Espírito de Cristo, à parte regenerada conquista a
vitória, e assim os santos crescem em graça, aperfeiçoando a sua santidade no
temor de Deus.
CAPÍTULO 14: DA FÉ SALVADORA
1. A graça da fé, por meio da qual os
eleitos são habilitados a crer para a salvação das suas almas, é a obra que o
Espírito de Cristo faz nos corações deles, e é sempre operada pelo ministério
da Palavra, por esse ministério, bem como pela administração dos sacramentos e
pela oração, ela é aumentada e fortalecida.
2. Por esta fé o cristão, segundo a
autoridade do mesmo Deus que fala em sua Palavra, crê ser verdade tudo quanto
nela é revelado, e age de conformidade com aquilo que cada passagem contém em
particular, prestando obediência aos mandamentos, temendo as ameaças e
abraçando as promessas de Deus para esta vida e para a futura; porém, os
principais atos de fé salvadora são: aceitar e receber Cristo e descansar só
nele para a justificação, santificação e vida eterna, isto em virtude do pacto
da graça.
3. Esta fé é de diferentes graus: é
fraca ou forte, pode ser muitas vezes e de muitos modos assaltada e
enfraquecida, mas sempre alcança a vitória, desenvolvendo-se em muitos até à
plena segurança em Cristo, que é tanto o Autor como Consumador da fé.
CAPÍTULO 15: DO ARREPENDIMENTO PARA A
VIDA
1. O arrependimento para a vida é uma
graça evangélica, doutrina esta que deve ser pregada por todo ministro do Evangelho,
tanto quanto a fé de Cristo.
2. Movido pelo reconhecimento e
sentimento, não só do perigo, mas da impureza e odiosidade de seus pecados,
como contrários à santa natureza e justa lei de Deus, e se conscientizando da
misericórdia divina manifesta em Cristo aos que são penitentes, o pecador, pelo
arrependimento, de tal maneira sente e aborrece os seus pecados que,
deixando-os, se volta para Deus, tencionando e procurando andar com ele em
todos os caminhos de seus mandamentos.
3. Ainda que não devamos confiar no
arrependimento como sendo de algum modo uma satisfação pelo pecado, ou em
qualquer sentido a causa do perdão dele, o que é ato da livre graça de Deus em
Cristo, contudo ele é de tal modo necessário aos pecadores, que sem ele ninguém
poderá esperar o perdão.
4. Assim como não há pecado tão pequeno
que não mereça a condenação, também não há pecado tão grande que possa trazer a
condenação sobre os que se arrependem verdadeiramente.
5. Os homens não devem se contentar com
um arrependimento geral, mas é dever de todos procurar arrepender-se
particularmente de cada um dos seus pecados.
6. Assim como cada homem é obrigado a
fazer a Deus confissão particular de seus pecados pedindo-lhe o perdão deles, e
abandonando-os, achará misericórdia; também aquele que escandaliza o seu irmão
ou a Igreja de Cristo deve estar pronto, por meio de uma confissão particular
ou pública de seu pecado e do pesar que por ele sente, a declarar o seu
arrependimento aos que estão ofendidos; isto feito, estes devem reconciliar-se com
o penitente e recebê-lo em amor.
CAPÍTULO 16: DAS BOAS OBRAS
1. As boas obras são somente aquelas que
Deus ordena em sua santa Palavra, não as que, sem a autoridade dela, são
aconselhadas pelos homens movidos por um zelo cego ou sob qualquer outro pretexto
de boa intenção.
2. Estas boas obras feitas em obediência
aos mandamentos de Deus são o fruto e as evidências de uma fé viva e
verdadeira; por elas os crentes manifestam a sua gratidão, robustecem a sua
confiança, edificam os seus irmãos, adornam a profissão do Evangelho, fecham a
boca aos adversários e glorificam a Deus, de quem são feitura, criados em Jesus
Cristo para isso mesmo, a fim de que, tendo o seu fruto em santidade, tenham no
final a vida eterna.
3. A capacidade de fazer boas obras de
modo algum provém dos crentes, mas inteiramente do Espírito Santo para operar
neles tanto o querer como o realizar segundo o seu beneplácito; contudo, não
devem, por isso, tornar-se negligentes, como se não fossem obrigados a cumprir
qualquer dever senão quando movidos especialmente pelo Espírito; pelo
contrário, devem esforçar-se por dinamizar a graça de Deus que neles está.
4. Os que alcançam, pela sua obediência,
a maior perfeição possível nesta vida estão longe de exceder as suas obrigações
e fazer mais do que Deus requer, e são deficientes em muitos dos deveres
obrigados a fazer.
5. Não podemos, pelas nossas melhores
obras, merecer das mãos de Deus perdão de pecado ou vida eterna, em razão da
grande desproporção que há entre elas e a glória por vir, e da infinita
distância que existe entre nós e Deus, a quem não podemos ser úteis por meio
delas, nem saldar a dívida dos nossos pecados anteriores; e porque, como boas,
procedem de seu Espírito; e, como nossas, são impuras e misturadas com tanta
fraqueza e imperfeição, que não podemos suportar a severidade do juízo de Deus;
assim, depois que tivermos feito tudo quanto podemos, temos cumprido tão
somente o nosso dever, e somos servos inúteis.
6. Não obstante, as pessoas dos crentes
sendo aceitas por meio de Cristo, suas obras são também aceitas por ele, não
como se fossem, nesta vida, inteiramente perfeitas e irreprováveis à vista de
Deus, mas porque Deus, considerando-as em seu Filho, é servido aceitar e
recompensar aquilo que é sincero, embora seja acompanhado de muitas fraquezas e
imperfeições.
7. As obras feitas pelos não
regenerados, embora sejam, quanto à matéria, coisas que Deus ordena, e úteis
tanto a eles mesmos quanto aos outros, contudo, porque procedem de corações não
purificados pela fé, não são feitas devidamente segundo a Palavra; nem para um
fim justo a glória é de Deus; são, portanto, pecaminosas e não podem agradar a
Deus, nem preparar o homem para receber a graça de Deus; não obstante, o
negligenciá-las é ainda mais pecaminoso e ofensivo a Deus.
CAPÍTULO 17: DA PERSEVERANÇA DOS SANTOS
1. Os que Deus aceitou em seu Amado,
eficazmente chamados e santificados pelo seu Espírito, não podem cair do estado
de graça, nem total nem finalmente; mas com toda a certeza hão de perseverar
nesse estado até ao fim, e estarão eternamente salvos.
2. Esta perseverança dos santos depende,
não do próprio livre-arbítrio deles, mas da imutabilidade do decreto da
eleição, procedente do livre e imutável amor de Deus Pai, da eficácia do mérito
e intercessão de Jesus Cristo, da permanência do Espírito e da semente de Deus
neles, da natureza do pacto da graça e de tudo o que gera também a sua exatidão
e infalibilidade.
3. Eles, porém, pelas tentações de
Satanás e do mundo, pelo predomínio da corrupção restante deles e pela negligência
dos meios de sua preservação, podem cair em graves pecados e, por algum tempo,
continuar neles; incorrem, assim, no desagrado de Deus, entristecem o seu Santo
Espírito e, em alguma medida, vêm a ser privados de suas graças e confortos;
têm seus corações endurecidos e suas consciências feridas; prejudicam e
escandalizam os outros e atraem sobre si juízos temporais.
CAPÍTULO 18: DA CERTEZA DA GRAÇA E DA
SALVAÇÃO
1. Ainda que os hipócritas e os demais
não regenerados possam iludir-se em vão com falsas esperanças e com a carnal
presunção de se acharem no favor de Deus e em estado de salvação, esperança
essa que perecerá, contudo os que verdadeiramente crêem no Senhor Jesus e o
amam com sinceridade, procurando andar diante dele em toda a boa consciência,
podem nesta vida certificar-se de se acharem em estado de graça, e podem
regozijar-se na esperança da glória de Deus, esperança que jamais os
envergonhará.
2. Esta certeza não é uma simples
persuasão conjectural e provável, fundada numa esperança falha, mas uma
segurança infalível da fé, fundada na divina verdade das promessas de salvação,
na evidência interna daquelas graças nas quais essas promessas são feitas, no
testemunho do Espírito de adoção que testifica com o nosso espírito que somos
filhos de Deus, sendo esse Espírito o penhor de nossa herança, e por meio de
quem somos selados para o dia da redenção.
3. Esta segurança infalível não pertence
de tal modo à essência da fé, que um verdadeiro crente, antes de possuí-la não
tenha de esperar muito e de lutar com muitas dificuldades; contudo, sendo pelo
Espírito capacitado a conhecer as coisas que lhe são livremente dadas por Deus,
ele pode obtê-la sem revelação extraordinária, no devido uso dos meios comuns.
É, pois, dever de cada um ser diligente e tornar certas sua vocação e eleição,
a fim de que, por esse modo, seja o seu coração, no Espírito Santo, dilatado em
paz e em deleite, em amor e em gratidão para com Deus, no vigor e na alegria,
nos deveres da obediência que são os frutos próprios desta segurança. Longe
esteja isto de predispor os homens à negligência.
4. Os verdadeiros crentes podem ter, de
diversas maneiras, a segurança de sua salvação abalada, diminuída e tornada
intermitente, negligenciando a conservação dela, caindo em algum pecado
especial que fira a consciência e entristeça o Espírito Santo, cedendo a fortes
e repentinas tentações, retirando Deus a luz de seu rosto e permitindo que
andem em trevas e não tenham luz mesmo os que o temem; contudo, eles nunca
ficam inteiramente privados daquela semente de Deus e da vida da fé, daquele
amor a Cristo e aos irmãos, daquela sinceridade de coração e consciência do
dever; daí, a certeza da salvação poderá, no tempo próprio, ser restaurada pela
operação do Espírito, e por meio dessas bênçãos são sustentados para não caírem
em total desespero.
CAPÍTULO 19: DA LEI DE DEUS
1. Deus outorgou a Adão uma lei, como um
pacto de obras. Por este pacto Deus o obrigou, bem como a toda a sua
posteridade, a uma obediência pessoal, plena, exata e perpétua; prometeu-lhe a
vida sob a condição de ele cumprir a lei, e o ameaçou com a morte caso a
violasse, e dotou-o com poder e capacidade para guardá-la.
2. Essa lei, depois da queda do homem,
continua sendo uma perfeita regra de justiça. Como tal, foi por Deus entregue
no monte Sinai em dez mandamentos e escrita em duas tábuas de pedra; os
primeiros quatro mandamentos contêm os nossos deveres para com Deus; e os
outros seis, os nossos deveres para com o homem.
3. Além dessa lei, geralmente chamada
lei moral, quis Deus dar ao seu povo Israel, considerado uma igreja sob sua
tutela, leis cerimoniais que contêm diversas ordenanças típicas. Essas leis,
que em parte se referem ao culto e prefiguram Cristo, suas graças, seus atos,
seus sofrimentos e seus benefícios, e em parte representam várias instruções de
deveres morais, estão todas abolidas sob o Novo Testamento.
4. A esse mesmo povo, considerado um
corpo político, Deus concedeu diversas leis judiciais que deixaram de vigorar
quando o país daquele povo também deixou de existir, e que agora não obrigam a
ninguém além do que exige a sua eqüidade geral.
5. A lei moral obriga a todos a
prestar-lhe obediência para sempre, tanto as pessoas justificadas quanto as
demais, e isto não somente por causa da matéria nela contida, mas também pelo
respeito à autoridade de Deus, o Criador, que a deu. Cristo, no Evangelho, de
modo algum desfaz esta obrigação, antes a reveste de maior vigor.
6. Embora os verdadeiros crentes não
estejam sob a lei como um pacto de obras, para serem por ela justificados ou
condenados, contudo ela serve de grande proveito, tanto a eles, como aos
demais. Como regra de vida, ela lhes informa da vontade de Deus e do dever que
eles têm; os dirige e os obriga a andar conforme essa vontade; descobre-lhes
também as pecaminosas poluções de sua natureza, de seus corações e de suas
vidas, de maneira que, examinando-se por meio dela, alcançam mais profunda
convicção de pecado, maior humilhação por causa dele e maior aversão a ele, ao
mesmo tempo lhes dá mais clara visão da necessidade que têm de Cristo e da
perfeita obediência a ele devida. Ela é também de utilidade aos regenerados a
fim de conter a sua corrupção, pois proíbe o pecado; as suas ameaças servem
para mostrar o que merecem os seu pecados; e quais as aflições que por causa
dele devem esperar nesta vida, ainda que estejam livres da maldição ameaçada na
lei. Do mesmo modo, as suas promessas mostram que Deus aprova a obediência
deles, e que bênçãos podem esperar dessa obediência, ainda que essas bênçãos
não lhes sejam devidas pela lei considerada pacto de obras, assim como fazer um
homem o bem ou evitar ele o mal, só porque a lei estimula aquilo e proíbe isto,
não prova estar ele sob a lei e não sob a graça.
7. Os supracitados usos da lei não são
contrários à graça do Evangelho, mas suavemente se harmonizam com ela, pois o
Espírito de Cristo submete e capacita a vontade do homem a fazer livre e
alegremente aquilo que a vontade de Deus, revelada na lei, exige que se faça.
CAPÍTULO 20: DA LIBERDADE CRISTÃ E DA
LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA
1. A liberdade que Cristo, sob o
Evangelho, comprou para os crentes consiste em serem eles libertos da culpa do
pecado, da ira condenatória de Deus, da maldição da lei moral; em serem
libertos deste presente mundo ímpio, do cativeiro de Satanás, do domínio do
pecado, da nocividade das aflições, do aguilhão da morte, da vitória da
sepultura e da condenação eterna; como também em terem eles livre acesso a
Deus, em lhe prestarem obediência, não movidos de um medo servil, mas de amor
filial e de espírito voluntário. Todos esses privilégios eram comuns também aos
crentes sob a lei; mas, sob o Novo Testamento, a liberdade dos cristãos está
mais ampliada, achando-se eles livres do jugo da lei cerimonial a que estava
sujeita a igreja judaica, e tendo mais outras ousadias no acesso ao trono da
graça e mais plenas comunicações do gracioso Espírito de Deus, do que
normalmente alcançavam os crentes sob a lei.
2. Só Deus é Senhor da consciência, e a
deixou livre das doutrinas e mandamentos humanos que, em qualquer coisa, sejam
contrários à sua Palavra, ou que, em matéria de fé ou de culto, estejam fora
dela. Assim, crer em tais doutrinas ou obedecer a tais mandamentos, por motivo
de consciência, é trair a verdadeira liberdade de consciência; e requerer para
eles fé implícita e obediência cega e absoluta, é destruir a liberdade de
consciência e a própria razão.
3. Aqueles que, sob o pretexto de
liberdade cristã, cometem qualquer pecado ou toleram qualquer concupiscência,
destroem, por isso mesmo, o fim da liberdade cristã; pelo contrário, sendo
livres das mãos de nossos inimigos, sem medo sirvamos ao Senhor em santidade e
justiça, diante dele, todos os dias de nossa vida.
4. Visto que os poderes que Deus
ordenou, e a liberdade que Cristo comprou não foram por Deus designados para
destruir, mas para que mutuamente nos apoiemos e preservemos uns aos outros,
resistem à ordenança de Deus os que, sob pretexto de liberdade cristã, se opõem
a qualquer poder legítimo, civil ou religioso, ou ao exercício dele. Se
publicarem opiniões ou mantiverem práticas contrárias à luz da natureza ou aos
reconhecidos princípios do cristianismo concernentes à fé, ao culto ou ao
procedimento; se publicarem opiniões, ou mantiverem práticas contrárias ao
poder da piedade, ou que, por sua própria natureza ou pelo modo de publicá-las
e mantê-las, são destrutivas da paz externa da Igreja e da ordem que Cristo
estabeleceu nela, podem legalmente ser processados e visitados com as censuras
da Igreja.
CAPÍTULO 21: DO CULTO RELIGIOSO E DO
DOMINGO
1. A luz da natureza mostra que há um
Deus, que tem domínio e soberania sobre tudo, que é bom e faz o bem a todos, e
que, portanto, deve ser temido, amado, louvado, invocado, crido e servido de
todo o coração, de toda a alma e de toda a força; mas, o modo aceitável de
adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo, e é tão limitado pela sua
própria vontade revelada que ele não pode ser adorado segundo as imaginações e
invenções dos homens ou sugestões de Satanás, nem sob qualquer representação
visível, ou de qualquer outro modo não prescrito nas Sagradas Escrituras.
2. O culto religioso deve ser prestado a
Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo e só a ele; não deve ser prestado nem
aos anjos nem aos santos, nem a qualquer outra criatura; nem deve depois da queda
ser prestado a Deus pela mediação de qualquer outro, senão unicamente a de
Cristo.
3. A oração, com ação de graças, sendo
uma parte especial do culto religioso, é por Deus exigida de todos os homens;
e, para que seja aceita, deve ser feita em nome do Filho, pelo auxílio de seu
Espírito, segundo a sua vontade, e isto com inteligência, reverência,
humildade, fervor, fé, amor e perseverança. Se for em voz alta, deve ser
proferida em uma língua conhecida dos presentes.
4. A oração deve ser feita por coisas
lícitas e por todas as classes de homens que existem atualmente ou que
existirão no futuro; mas não deve ser feita em favor dos mortos, nem em favor
daqueles que se saiba terem cometido o pecado para a morte.
5. A leitura das Escrituras, com santo
temor, a sã pregação da Palavra e a consciente atenção a ela, em obediência a
Deus, com entendimento, fé e reverência, o cântico de salmos, com gratidão no
coração bem como a devida administração e digna recepção dos sacramentos
instituídos por Cristo são partes do culto comum oferecido a Deus, além dos
juramentos religiosos, votos, jejuns solenes e ações de graça em ocasiões
especiais, os quais, em seus vários tempos e ocasiões próprias, devem ser
usados de um modo santo e religioso.
6. Agora, sob o Evangelho, nem a oração,
nem qualquer outro ato do culto religioso é restrito a certo lugar, nem se
torna mais aceitável por causa do lugar em que se ofereça ou para o qual se
dirija; mas Deus deve ser adorado em todo lugar, em Espírito e em verdade,
tanto em família, diariamente, e em secreto, estando cada um sozinho, como
também, mais solenemente, em assembléias públicas, que não devem ser
descuidadas, nem voluntariamente negligenciadas ou desprezadas, sempre que
Deus, pela sua providência, proporcione ocasião.
7. Como é lei da natureza que, em geral,
uma devida proporção de tempo seja destinada ao culto de Deus, assim também, em
sua Palavra, por um preceito positivo, moral e perpétuo, preceito que obriga a
todos os homens, em todas as épocas, Deus designou particularmente um dia em
sete para ser um sábado (= descanso) santificado por ele; desde o princípio do
mundo, até à ressurreição de Cristo, esse dia foi o último dia da semana; e
desde a ressurreição de Cristo, foi mudado para o primeiro dia da semana, dia
que nas Escrituras é chamado dia do Senhor (= domingo), e que há de continuar
até o fim do mundo como o sábado cristão.
8. Este sábado é santificado ao Senhor
quando os homens, tendo devidamente preparado os seus corações e de antemão
ordenado os seus negócios comuns, não só guardam, durante todo o dia um santo
descanso das suas obras, palavras e pensamentos a respeito de seus empregos
seculares e de suas recreações, mas também ocupam todo o tempo em exercícios
públicos e particulares de culto e nos deveres de necessidade e de
misericórdia.
CAPÍTULO 22: DOS JURAMENTOS LEGAIS E DOS
VOTOS
1. O juramento legal é uma parte do
culto religioso em que o crente, em ocasiões próprias e com toda a solenidade,
chama a Deus por testemunha do que assevera ou promete; pelo juramento ele
invoca a Deus a fim de ser julgado por ele, segundo a verdade ou a falsidade do
que jura.
2. O único nome pelo qual se deve jurar
é o nome de Deus, nome que se pronunciará com todo o santo temor e reverência;
jurar, pois, falsa ou temerariamente por este glorioso e tremendo nome, ou
jurar por qualquer outra coisa é pecaminoso e abominável. Contudo, como em
assuntos de gravidade e importância, o juramento é autorizado pela Palavra de
Deus, tanto sob o Novo Testamento quanto sob o Antigo Testamento, o juramento,
sendo exigido pela autoridade legal, deve ser prestado com reverência a tais
assuntos.
3. Quem vai prestar um juramento deve
considerar refletidamente a gravidade de um ato tão solene, e nada afirmar
senão do que esteja plenamente persuadido ser a verdade. Ninguém deve
obrigar-se por juramento a qualquer coisa que seja ou que acredite ser boa e
justa e por aquilo que pode e está resolvido a cumprir. É, porém, pecado
recusar prestar juramento concernente a qualquer coisa justa e boa, sendo exigido
pela autoridade legal.
4. O juramento deve ser prestado
conforme o sentido comum e claro das palavras, sem equívoco ou reserva mental.
Não pode obrigar a pecar; mas, sendo prestado com referência a qualquer coisa
não pecaminosa, obriga ao cumprimento, mesmo com prejuízo de quem jura. Não
deve ser violado, ainda que feito a hereges ou a infiéis.
5. O voto é da mesma natureza que o
juramento promissório; deve ser feito com o mesmo cuidado religioso e cumprido
com igual fidelidade.
6. O voto não deve ser feito a criatura
alguma, mas só a Deus; para que seja aceitável, deve ser feito voluntariamente,
com fé e consciência de dever, em reconhecimento de misericórdias recebidas ou
para obter o que desejamos. Pelo voto obrigamo-nos mais restritamente aos deveres
necessários ou a outras coisas, até onde ou quando elas conduzirem a esses
deveres.
7. Ninguém deve prometer fazer coisa
alguma que seja proibida na Palavra de Deus, ou que impeça o cumprimento de
qualquer dever nela ordenado, nem o que não está em seu poder cumprir e para
cuja execução não tenha promessa ou competência da parte de Deus; por isso, os
votos monásticos, que os papistas fazem, do celibato perpétuo, da pobreza
voluntária e da obediência regular, em vez de serem graus de maior perfeição,
não passam de laços supersticiosos e iníquos com os quais nenhum cristão deve
embaraçar-se.
CAPÍTULO 23: DO MAGISTRADO CIVIL
1. Deus, o Senhor supremo e Rei de todo
o mundo, para a sua própria glória e para o bem público, constituiu sobre o
povo magistrados civis, a ele sujeitos, e para este fim os armou com o poder da
espada para defesa e incentivo dos bons e castigo dos malfeitores.
2. Aos cristãos é lícito aceitar e
exercer o ofício de magistrado, sendo para ele chamados; e em sua
administração, como devem especialmente manter a piedade, a justiça e a paz,
segundo as leis salutares de cada estado, eles, sob a dispensação do Novo
Testamento, para esse fim, podem licitamente fazer guerra, havendo ocasiões
justas e necessárias.
3. Os magistrados civis não podem tomar
sobre si a administração da Palavra e dos Sacramentos, ou o poder das chaves do
Reino do Céu, nem de modo algum interferir em matéria de fé; contudo, como pais
solícitos, têm o dever de proteger a igreja de nosso comum Senhor, sem dar
preferência a qualquer denominação cristã acima das outras, de tal maneira que
todos os eclesiásticos, sem distinção, gozem plena, livre e indisputada
liberdade de cumprir todas as partes das suas sagradas funções, sem violência
ou perigo. Como Jesus Cristo constituiu em sua igreja um governo regular e uma
disciplina, nenhuma lei de qualquer estado deve interferir, impedir, ou
embaraçar o seu devido exercício entre os membros voluntários de qualquer
denominação cristã, segundo a profissão e crença de cada uma. E é dever dos
magistrados civis proteger a pessoa e o bom nome de todos os que lhe são
relacionados, de modo que a ninguém seja permitido, sob pretexto de religião ou
de incredulidade, ofender, perseguir, maltratar ou injuriar a quem quer que
seja; e bem assim tomar providências para que todas as assembléias religiosas e
eclesiásticas possam reunir-se sem serem perturbadas ou molestadas.
4. É dever do povo orar pelos
magistrados, honrá-los, pagar-lhes tributos e outros impostos, obedecer às suas
ordens legais e sujeitar-se à sua autoridade, e tudo isto por dever de
consciência. Incredulidade ou indiferença em questão de religião não invalida a
justa autoridade do magistrado, nem isenta o povo da obediência que lhe deve,
obediência essa da qual não estão excluídos os eclesiásticos. O papa não tem
nenhum poder ou jurisdição sobre os magistrados dentro dos domínios deles, ou
sobre qualquer um de seu povo; e muito menos tem o poder de privá-los de seus
domínios ou de suas vidas por julgá-los hereges ou sob qualquer outro pretexto.
CAPÍTULO 24: DO MATRIMÔNIO E DO DIVÓRCIO
1. O casamento deve ser entre um homem e
uma mulher; ao homem não é lícito ter mais de uma esposa, nem à mulher mais de
um marido ao mesmo tempo.
2. O matrimônio foi ordenado para o
auxílio mútuo de marido e esposa, para a propagação da raça humana por uma
sucessão legítima, e da Igreja por uma semente santa, e para evitar-se a
impureza.
3. A todos os que são capazes de dar um
consentimento ajuizado, é lícito casar, mas é dever dos cristãos casar somente no
Senhor; portanto, os que professam a verdadeira religião reformada não devem
casar-se com infiéis, papistas ou outros idólatras; nem devem os piedosos
prender-se a jugo desigual por meio do casamento com os que são notoriamente
ímpios em suas vidas, ou que mantêm heresias perniciosas.
4. Não devem casar-se as pessoas entre
as quais existem os graus de consangüinidade ou afinidade proibidos na Palavra
de Deus; tais casamentos incestuosos jamais poderão tornar-se lícitos pelas
leis humanas ou pelo consentimento das partes, de modo a poderem viver juntas
como marido e esposa.
5. O adultério ou a fornicação cometidos
depois de um contrato, sendo descoberto antes do casamento, dá à parte inocente
justo motivo de dissolver o contrato; no caso do adultério depois do casamento,
à parte inocente é lícito propor divórcio, e, depois de obter o divórcio, casar
com outrem, como se a parte infiel fosse morta.
6. Posto que a corrupção do homem seja
tal que o incline a procurar argumentos a fim de indevidamente separar aqueles
que Deus uniu em matrimônio, contudo nada, senão o adultério, é causa
suficiente para dissolver os laços do matrimônio, a não ser que haja deserção
tão obstinada que não possa ser remediada nem pela Igreja nem pelo magistrado
civil. Para a dissolução do matrimônio é necessário haver um processo público e
regular, não se devendo deixar ao arbítrio e discrição das partes o decidir em
seu próprio caso.
CAPÍTULO 25: DA IGREJA
1. A Igreja Católica ou Universal, que é
invisível, consiste do número total dos eleitos que já foram, dos que agora são
e dos que ainda serão reunidos em um só corpo, sob Cristo, seu Cabeça; ela é a
esposa, o corpo, a plenitude daquele que enche tudo em todas as coisas.
2. A Igreja visível, que também é
católica ou universal, sob o Evangelho (não sendo restrita a uma nação, como
antes sob a Lei), consiste de todos aqueles que, pelo mundo inteiro, professam
a verdadeira religião, juntamente com seus Filhos; é o Reino do Senhor Jesus
Cristo, a casa e família de Deus, fora da qual não há possibilidade de
salvação.
3. À Igreja Católica visível Cristo deu
o ministério, os oráculos e as ordenanças de Deus, para a congregação e o
aperfeiçoamento dos santos, nesta vida, até ao fim do mundo, e pela sua própria
presença e pelo seu Espírito os torna eficientes para esse fim, segundo a sua
promessa.
4. Esta Igreja Católica tem sido ora
mais, ora menos visível. As igrejas particulares, que são membros dela, são
mais puras ou menos puras conforme nelas é, com mais ou menos pureza, ensinado
e abraçado o Evangelho, administradas as ordenanças e celebrado o culto
público.
5. As igrejas mais puras debaixo do céu
estão sujeitas à mistura e ao erro; algumas têm-se degenerado a ponto de não
mais serem igrejas de Cristo, e, sim, sinagogas de Satanás; não obstante,
haverá sempre sobre a terra uma igreja para adorar a Deus segundo a vontade
dele.
6. Não há outro Cabeça da Igreja senão o
Senhor Jesus Cristo. Em sentido algum pode ser o papa de Roma o seu cabeça,
senão que ele é aquele anticristo, aquele homem do pecado e filho da perdição
que se exalta na Igreja contra Cristo e contra tudo o que se chama Deus.
CAPÍTULO 26: DA COMUNHÃO DOS SANTOS
1. Todos os santos que, pelo Espírito de
Deus e pela fé, estão unidos a Jesus Cristo, seu Cabeça, têm comunhão com ele
nas suas graças, nos seus sofrimentos, na sua morte, na sua ressurreição e na
sua glória, e, estando unidos uns ao outros em amor, participam dos mesmos dons
e graças, e estão obrigados ao cumprimento dos deveres públicos e particulares
que contribuem para o seu mútuo proveito, tanto no homem interior como no
exterior.
2. Os santos são, pela profissão de fé,
obrigados a manter uma santa sociedade e comunhão no culto de Deus e na
realização de outros serviços espirituais que contribuem para a sua mútua edificação,
bem como a socorrer uns aos outros em coisas materiais, segundo as suas várias
habilidades e necessidades; esta comunhão, conforme Deus oferecer ocasião, deve
estender-se a todos aqueles que, em todo lugar, invocam o nome do Senhor Jesus.
3. Esta comunhão que os santos têm com
Cristo não os torna de modo algum participantes da substância de sua divindade,
nem iguais a Cristo em qualquer sentido; afirmar uma ou outra coisa é ímpio e
blasfemo. A comunhão que os santos mantêm entre si não destrói nem de modo
algum enfraquece o título ou domínio que cada homem tenha sobre os seus bens e
posses.
CAPÍTULO 27: DOS SACRAMENTOS
1. Os sacramentos são santos sinais e
selos do pacto da graça, imediatamente instituídos por Deus para representar
Cristo e seus benefícios, e confirmar o nosso interesse nele, bem como fazer
uma diferença visível entre os que pertencem à Igreja e o restante do mundo, e
solenemente comprometê-los no serviço de Deus em Cristo, segundo a sua Palavra.
2. Há em cada sacramento uma relação
espiritual ou uma união sacramental entre o sinal e a coisa significada; por
isso, os nomes e efeitos de um são atribuídos ao outro.
3. A graça revelada nos sacramentos, ou
por meio deles, quando devidamente usados, não é conferida por qualquer poder
neles existente; nem a eficácia de uma sacramento depende da piedade ou da
intenção de quem o administra, mas da obra do Espírito e da palavra da
instituição, a qual, juntamente com o preceito que autoriza o seu uso, contém
uma promessa de benefício aos que dignamente o recebem.
4. Há apenas dois sacramentos ordenados
por Cristo, nosso Senhor, no Evangelho: O Batismo e a Ceia do Senhor, nenhum
dos quais pode ser administrado senão por um ministro da Palavra, legalmente
ordenado.
5. Os sacramentos do Antigo Testamento,
quanto às coisas espirituais por eles significadas e representadas, eram, em
substância, os mesmos que os do Novo Testamento.
CAPÍTULO 28: DO BATISMO
1. O batismo é um sacramento do Novo
Testamento, instituído por Jesus Cristo, não só para solenemente admitir na
Igreja visível a pessoa batizada mas também para servir-lhe de sinal e selo do
pacto da graça, de sua união com Cristo, da sua regeneração, da remissão dos
pecados e também da sua consagração a Deus, por meio de Jesus Cristo, a fim de
andar em novidade de vida. Este sacramento, segundo a ordenação do próprio
Cristo, há de continuar em sua Igreja até ao final do mundo.
2. O elemento exterior, usado neste
sacramento é a água, com a qual a pessoa é batizada em nome do Pai e do Filho e
do Espírito Santo, por um ministro do Evangelho, legalmente ordenado.
3. Não é necessário imergir o candidato
na água, mas o batismo é corretamente administrado derramando-se ou
aspergindo-se água sobre a pessoa.
4. Não só os que de fato professam a sua
fé em Cristo e obediência a ele, mas também os filhos de pais crentes (ainda
que só um deles o seja) devem ser batizados.
5. Posto que seja grande pecado
menosprezar ou negligenciar esta ordenança, contudo a graça e a salvação não se
acham tão inseparavelmente ligadas a ela, que sem ela uma pessoa não possa ser
regenerada e salva, ou que todos os que são batizados sejam indubitavelmente
regenerados.
6. A eficácia do batismo não se limita
ao momento em que é administrado; contudo, pelo devido uso desta ordenança, a
graça prometida é não somente oferecida, mas realmente manifestada e conferida
pelo Espírito Santo àqueles a quem ela pertence (adultos ou crianças), segundo
o conselho da própria vontade de Deus em seu tempo determinado.
7. O sacramento do batismo deve ser administrado
uma só vez a uma mesma pessoa.
CAPÍTULO 29: DA CEIA DO SENHOR
1. Na noite em que foi traído, nosso
Senhor Jesus instituiu o sacramento de seu corpo e de seu sangue, chamado Ceia
do Senhor, para ser observado em sua igreja até o fim do mundo, para ser uma
lembrança perpétua do sacrifício que em sua morte ele fez de si mesmo; para
selar, aos verdadeiros crentes, todos os benefícios provenientes desse
sacrifício para o seu nutrimento espiritual e crescimento nele, e seu
compromisso de cumprir todos os seus deveres para com ele, e ser um vínculo e
penhor de sua comunhão com ele e uns com os outros, como membros de seu corpo
místico.
2. Neste sacramento, Cristo não é
oferecido a seu Pai, nem de modo algum se faz um sacrifício real para remissão
de pecados dos vivos ou dos mortos, mas apenas se faz uma comemoração daquela
única oferenda que ele fez de si mesmo na cruz, uma vez por todas, e, por meio
dela, uma oblação espiritual de todo o louvor possível a Deus; assim, o chamado
sacrifício papal da missa, como é chamado, é sobremodo ofensivo ao único
sacrifício de Cristo, o qual é a única propiciação por todos os pecados dos
eleitos.
3. Nesta ordenança, o Senhor Jesus
constituiu os seus ministros para declarar ao povo a sua palavra de
instituição, orar, abençoar os elementos, pão e vinho, e assim separá-los do
uso comum para um uso sagrado; para tomar e partir o pão, tomar o cálice, dele
participando também, e dar ambos os elementos aos comungantes, e tão somente
aos que se acharem presentes na congregação.
4. A missa particular ou recepção do
sacramento por um só sacerdote ou por uma só pessoa, bem como a negação do
cálice ao povo, a adoração dos elementos, a elevação ou procissão para serem
adorados, e a sua conservação para qualquer pretenso uso religioso, são coisas
contrárias à natureza deste sacramento e à instituição de Cristo.
5. Os elementos exteriores deste
sacramento, devidamente consagrados ao uso ordenado por Cristo, têm tal relação
com o Cristo crucificado, que, verdadeiramente, embora só num sentido
sacramental, são às vezes chamados pelos nomes das coisas que representam, a
saber, o corpo e o sangue de Cristo; se bem que, em substância e natureza,
conservam-se verdadeira e somente pão e vinho, como eram antes.
6. A doutrina geralmente chamada
transubstanciação, que ensina a mudança da substância do pão e do vinho na
substância do corpo e do sangue de Cristo, mediante a consagração por um
sacerdote ou por qualquer outro meio é algo repugnante não só à vista das
Escrituras, mas também ao senso comum e à razão; destrói a natureza do
sacramento e tem sido a causa de muitas superstições e até de grosseira
idolatria.
7. Os que comungam dignamente,
participando exteriormente dos elementos visíveis deste sacramento, também
recebem intimamente, pela fé, o Cristo crucificado, e todos os benefícios de
sua morte, e deles se alimentam, não carnal ou corporalmente, mas real,
verdadeira e espiritualmente; não estando o corpo e o sangue de Cristo,
corporal ou carnalmente nos elementos, pão e vinho, nem com eles ou sob eles,
mas estão, espiritual e realmente, presentes à fé dos crentes nessa ordenança,
como estão os próprios elementos em relação a seus sentidos corporais.
8. Ainda que os ignorantes e os ímpios
recebam os elementos visíveis deste sacramento, todavia não recebem a coisa por
eles significada, mas pela sua indigna participação tornam-se réus do corpo e
do sangue do Senhor, para sua própria condenação. Portanto, todos estes, como
são indignos de gozar comunhão com o Senhor, são também indignos da sua mesa e
não podem, sem grande pecado contra Cristo, participar destes santos mistérios
nem a eles ser admitidos, enquanto permanecerem nesse estado.
CAPÍTULO 30: DAS CENSURAS ECLESIÁSTICAS
1. O Senhor Jesus, como Rei e Cabeça da
sua Igreja, nela instituiu um governo nas mãos dos oficiais dela; governo
distinto da magistratura civil.
2. A esses oficiais estão entregues as
chaves do Reino do Céu. Em virtude disso, eles têm, respectivamente, o poder de
reter ou de cancelar pecados; de fechar este reino a impenitentes, tanto pela
Palavra quanto pelas censuras; de abri-lo aos pecadores penitentes, pelo
ministério do Evangelho e pela absolvição das censuras, quando as
circunstâncias o exigirem.
3. As censuras eclesiásticas são
necessárias para chamar e ganhar (para Cristo) os irmãos transgressores, a fim
de impedir que outros pratiquem ofensas semelhantes, para lançar fora o velho
fermento que poderia corromper a massa inteira, para vindicar a honra de Cristo
e a santa profissão do Evangelho, e para evitar a ira de Deus, a qual, com
justiça, poderia cair sobre a Igreja, se ela permitisse que o pacto divino e
seus elos fossem profanados por ofensores notórios e obstinados.
4. Para a melhor obtenção destes fins,
os oficiais da igreja devem proceder dentro da seguinte ordem, segundo a
natureza do crime e demérito da pessoa: repreensão, suspensão do sacramento da
Ceia do Senhor por algum tempo e exclusão da Igreja.
CAPÍTULO 31: DOS SÍNODOS E CONCÍLIOS
1. Para melhor governo e maior
edificação da Igreja, deverá haver as assembléias chamadas sínodos ou
concílios. Em virtude do seu cargo e do poder que Cristo lhes deu para
edificação e não para destruição, cabe aos pastores e aos outros presbíteros
das igrejas particulares criar tais assembléias e reunir-se nelas quantas vezes
julgarem útil para o bem da Igreja.
2. Aos sínodos e concílios compete
decidir, ministerialmente, controvérsias quanto à fé e aos casos de
consciência; determinar regras e disposições para a melhor direção do culto
público de Deus e governo de sua Igreja; receber queixas em casos de má
administração e com autoridade decidi-las. Os seus decretos e decisões, sendo
consoantes com a Palavra de Deus, devem ser recebidos com reverência e
submissão, não só pela sintonia com a Palavra, mas também pela autoridade
através da qual são feitos, visto que essa autoridade é uma ordenação de Deus,
designada para isso em sua Palavra.
3. Todos os sínodos e concílios, desde
os tempos dos apóstolos, quer gerais quer particulares podem errar, e muitos
têm errado; eles, portanto, não devem constituir regra de fé e prática, mas
podem ser usados como auxílio em uma e outra coisa.
4. Os sínodos e concílios não devem
discutir coisa alguma que não seja eclesiástica; não devem imiscuir-se nos
negócios civis do estado, a não ser por humilde petição em casos
extraordinários, ou por conselhos, em satisfação de consciência, se o
magistrado civil os convidar a fazê-lo.
CAPÍTULO 32: DO ESTADO DO HOMEM DEPOIS
DA MORTE E DA RESSURREIÇÃO DOS MORTOS
1. Os corpos dos homens, depois da
morte, voltam ao pó e vêem a corrupção; mas as suas almas (que nem morrem nem
dormem), possuindo uma substância imortal, voltam imediatamente para Deus, que
as deu. As almas dos justos, sendo então aperfeiçoadas em santidade, são
recebidas no mais alto dos céus onde contemplam a face de Deus em luz e glória,
esperando a plena redenção de seus corpos; e as almas dos ímpios são lançadas
no inferno, onde permanecerão em tormentos e em trevas espessas, reservadas
para o juízo do grande dia. Além destes dois lugares destinados às almas
separadas de seus respectivos corpos, as Escrituras não reconhecem nenhum outro
lugar.
2. No último dia, os que estiverem vivos
não morrerão, mas serão transformados; todos os mortos serão ressuscitados com
os seus próprios corpos, e não outros, embora com qualidades diferentes, e se
unirão novamente às suas almas, para sempre.
3. Os corpos dos injustos serão, pelo
poder de Cristo, ressuscitados para a desonra; os corpos dos justos serão, pelo
seu Espírito, ressuscitados para a honra e para serem semelhantes ao próprio
corpo glorioso de Cristo.
CAPÍTULO 33: DO JUÍZO FINAL
1. Deus já determinou um dia no qual,
com justiça, há de julgar o mundo por meio de Jesus Cristo a quem, pelo Pai,
foram dados o poder e o juízo. Nesse dia não somente serão julgados os anjos
apóstatas, mas igualmente todas as pessoas que tiverem vivido sobre a terra
comparecerão ante o tribunal de Cristo, a fim de darem conta de seus
pensamentos, palavras e feitos, e receberem o galardão segundo o que tiverem
feito, o bem ou o mal, por meio do corpo.
2. O fim que Deus tem em vista
determinando esse dia é manifestar a sua glória – a glória de sua misericórdia
na eterna salvação dos eleitos, e a glória da sua justiça na condenação dos
réprobos, que são perversos e desobedientes. Os justos irão, então, para a vida
eterna, e receberão aquela plenitude de alegria e refrigério procedentes da
presença do Senhor; mas os ímpios, que não conhecem a Deus nem obedecem ao
Evangelho de Jesus Cristo, serão lançados nos eternos tormentos e punidos com a
destruição eterna, longe da presença do Senhor e da glória de seu poder.
3. Assim como Cristo, para afastar os
homens do pecado e para maior consolação dos justos nas suas adversidades, quer
que estejamos firmemente convencidos de que haverá um dia de juízo, assim
também quer que esse dia não seja conhecido dos homens, a fim de que eles se
despojem de toda a confiança carnal, sejam sempre vigilantes, não sabendo a que
hora virá o Senhor, e estejam prontos a dizer: “Vem logo, Senhor Jesus!” Amém.