domingo, 3 de novembro de 2013

Afinal, o que é orar?



[Alguns vão estranhar que um calvinista escreva sobre oração e mais ainda se eu disser que costumo orar todo dia... mas, aqui vai]

Orar a Deus deveria ser uma coisa simples. Todavia, poucos assuntos precisam de mais esclarecimentos do que a oração. Há muitos conceitos errados sobre a oração por causa do misticismo e da superstição que acometem o ser humano (não somente os brasileiros), por falta de mais conhecimento bíblico sobre o assunto e por causa de ideias equivocadas que as pessoas têm sobre Deus. Seguem alguns pontos sobre oração que penso que são fundamentais e também relevantes para nós hoje. Estou pressupondo o básico: quem vai orar acredita que Deus existe e que Ele recompensa os que o buscam (Hb 11.1-2 e 6). 

1 – Orar é basicamente apresentar a Deus, mediante Jesus Cristo e com a ajuda do Espírito Santo, nossos desejos, necessidades, confissão de pecados, intercessões, agradecimentos. A razão é que somente o Deus Triúno conhece nossos corações, é capaz de atender os pedidos e o único que pode perdoar pecados. Portanto, não há qualquer fundamento bíblico para dirigirmos nossas orações a quaisquer criaturas, vivas ou mortas, mas somente ao Deus Triúno (2 Sm 22:32; 1Rs 8:39; Is 42:8; Sl 65:1-4;145:16,19; Mq 7:18-20; Mt 4:10; Lc 4:8; Jo 14:1; At 1:24; Rm 8:26-27; Jo 14:14 e dezenas de outros textos que falam de nos dirigirmos a Deus).

2 – O Novo Testamento nos ensina que devemos orar a Deus em nome de Jesus Cristo. A razão é que o pecado nos afastou de Deus e não podemos nos aproximar dele por nossos próprios méritos. Jesus Cristo é o único, na terra e no céu, que foi constituído pelo próprio Deus como mediador entre ele e os homens. Não há qualquer base bíblica para se chegar a Deus em oração pela mediação de qualquer outro nome. A Bíblia nos ensina que “não há outro nome dado aos homens” (At 4:12) e que “há somente um mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo” (1Tim 2:5). (Ver ainda Jo 14:6; Ef 3:12; Cl 3:17;Hb 7:25-27;13:15). 

3 – Orar em nome de Jesus é nos achegarmos a Deus confiados nos méritos de Jesus Cristo e no perdão de pecados que ele nos conseguiu por meio de sua morte na cruz. É pedir a Deus com base nos merecimentos de Cristo e não nos nossos. É renunciar a toda justiça própria e chegarmos esvaziados de nós mesmos diante de Deus, nada tendo para oferecer em nosso favor a não ser a obra daquele que morreu e ressuscitou por nós. Onde não houver esta disposição e atitude, invocar o nome de Jesus é vão. O nome de Jesus não é um talismã ou uma palavra mágica, ou a senha para desbloquear as bênçãos de Deus. Não funciona nos lábios daqueles que ainda confiam em si mesmos e na sua própria justiça, ainda que repitam este Nome dezenas de vezes em oração (Mt 6:7-8; 7:21; Lc 6:46-49; Jo 14:13,14; At 19:13-16; 1Jo 5:13-15; Hb 4:14-16).

4 – Embora possamos pedir a Deus qualquer coisa que desejarmos, todavia, só deveríamos orar por aquelas que trazem a maior glória de Deus, que promovem o crescimento do Reino de Deus neste mundo e que são para nosso bem, sustento, proteção, alegria, bem como de nosso próximo. Foi isto que Jesus nos ensinou a pedir na oração do “Pai Nosso” (Mt 6:9-13), além de outras coisas afins (Lc 9:11-13). Assim, é tentar a Deus orarmos por coisas ilícitas e pedir coisas que Ele declara, na Bíblia, serem contra a sua vontade (Tg 4:1-3; Mt 20:20-28).

5 – Em nossas orações, deveríamos nos lembrar de orar por outras pessoas. A Bíblia nos ensina a pedir a Deus pelos irmãos em Cristo, pela Igreja de Cristo em todo o mundo, pelos governantes, por nossos familiares e pessoas de todas as classes, inclusive pelos nossos inimigos. Todavia, não há qualquer base bíblica para orarmos pelos que já morreram ou oferecer petições em favor dos mortos (Gn 32:11; 2Sm 7:29; Sl 28:9; Mt 5:44; Jo 17:9 e 20; Ef 6:18; 1Tm 2:1-2; 2Ts 1:11; 3:1; Cl 4:3).

6 – Deus nos encoraja a trazer diante dele as nossas petições. Todavia, ainda que a eficácia de nossas orações dependa exclusivamente dos méritos de Cristo, Deus nos ensina em sua Palavra que há determinadas atitudes nos que oram que fazem com que ele não atenda estas orações, como brigas entre irmãos, mundanismo e egoísmo, tratar mal a esposa, pecados ocultos, incredulidade e dúvidas, falta de perdão a quem nos ofende, hipocrisia, vãs repetições, entre outras coisas (Mt 5:23-24; Tg 4:1-3; 1Pe 3:7; Sl 66:18; Pv 28:13; Is 59:1-2; Tg 1:6-7; Mt 6:14-15; Mt 6:5; Mt 6:7-8). Por outro lado, se nossas orações são respondidas, isto não se deve à nossa santidade, mas à graça de Deus mediante Jesus Cristo, que nos habilita a viver de forma agradável a ele (1Jo 3:21-22), e ao fato de que as orações, por esta mesma graça, foram feitas de acordo com a vontade de Deus (1Jo 5:14).

7 – Deus requer fé da parte dos que oram (Hb 3:12; 11:6; Jer 29:12-14; Tg 1:5-8; 5:15). Esta fé é uma simples confiança de que Deus existe, que ele nos aceitou plenamente em Cristo e que é poderoso para nos dar aquilo que pedimos, ou então, nos dar muito mais do que imaginamos (Hb 4:14-16). Orar com fé é trazer diante de Deus nossas necessidades e descansar nele, confiantes que ele responderá de acordo com o que for melhor para nós (1Jo 5:14-15). Orar com fé não significa determinar a Deus que cumpra nossos pedidos, ou decretar, como se a oração tivesse um poder próprio, que estes pedidos aconteçam. Orações não geram realidades espirituais e nem engravidam a história. É Deus quem ouve as orações e é Ele quem decide se vai respondê-las ou não, e isto de acordo com sua vontade e propósito de sempre nos fazer bem.

Se houvesse mais oração verdadeira a Deus por parte dos que professam conhecê-lo mediante Jesus Cristo, quem sabe veríamos aquele avivamento e reforma espirituais que tanto desejamos para nossa pátria?

“Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra” (2Cron 7:14).



sábado, 2 de novembro de 2013

Arminianos, ouçam Armínio!



A posição evangélica dominante nos dias de hoje identifica-se com o teólogo holandês Jacó Armínio, pelo que nos debates teológicos é designada como arminianismo. O que muitos não sabem é que Armínio era bem mais "calvinista" que os arminianos atuais imaginam ou gostariam de saber. Se eles soubessem o que ele escreveu a respeito de alguns assuntos importantes no debate sobre a salvação, poderiam não se tornar calvinistas, mas pelo menos seriam arminianos melhores.

Descobririam, por exemplo:

a) Que ele recomendava a leitura da obra de Calvino

"Depois da leitura das Escrituras..., e mais do que qualquer outra coisa,... eu recomendo a leitura dos Comentários de Calvino ... Pois afirmo que na interpretação das Escrituras Calvino é incomparável, e que seus Comentários são mais valiosos do que qualquer coisa que nos tenha sido legada nos escritos dos pais — tanto assim que atribuo a ele um certo espírito de profecia no qual ele se encontra em uma posição distinta acima de outros, acima da maioria, na verdade, acima de todos." (Carta escrita a Sebastian Egbertsz, publicada em P. van Limborch e C. Hartsoeker, Praestantium ac Eruditorum Virorum Epistolae Ecclesiasticae et Theologicae (Amsterdam, 1704), nº 101).

b) Que ele cria na doutrina da providência

"Nesta definição de Providência Divina, eu de forma alguma a privo de qualquer partícula daquelas propriedades que concordam ou pertencem a ela; mas eu declaro que ela preserva, regula, governa e dirige todas as coisas e que nada no mundo acontece acidentalmente ou por acaso. Além disto, eu coloco em sujeição à Providência Divina tanto o livre-arbítrio quanto até mesmo as ações de uma criatura racional, de modo que nada pode ser feito sem a vontade de Deus, nem mesmo as que são feitas em oposição a ela , somente devemos observar uma distinção entre as boas e as más ações, ao dizer, que "Deus tanto deseja e executa boas ações," quanto que "Ele apenas livremente permite as que são más." Além disto ainda, eu muito prontamente admito, que até mesmo todas as ações, sejam quais forem, relativas ao mal, que possam possivelmente ser imaginadas ou criadas, podem ser atribuídas ao Emprego da Divina Providência, tendo apenas um cuidado, "não concluir deste reconhecimento que Deus seja a causa do pecado." (Works, vol 1: The providence of God)

c) Que ele cria nos decretos divinos

"Os decretos de Deus são os atos extrínsecos de Deus, ainda que sejam internos, e, por essa razão, feitos pelo livre-arbítrio de Deus, sem qualquer necessidade absoluta . Todavia um decreto parece exigir a suposição de outro, a bem de uma certa conveniência de igualdade; como o decreto relativo à criação de uma criatura racional, e o decreto relativo à salvação ou condenação [dessa criatura] sob a condição de obediência ou desobediência. A ação da criatura também, quando considerada por Deus desde a eternidade, pode algumas vezes ser a ocasião, e algumas vezes a causa motriz externa de criar algum decreto; e isto de tal forma que sem tal ação [da criatura] o decreto não seria nem poderia ser feito. (...) Embora todos os decretos de Deus foram feitos desde a eternidade, todavia uma certa ordem de prioridade e posterioridade deve ser formulada, de acordo com sua natureza, e a relação mútua entre elas." (Works, vol 2: On decree of God)

d) Que ele cria na predestinação

"O primeiro na ordem dos decretos divinos não é o da predestinação, pela qual Deus preordenou para fins sobrenaturais, e pela qual ele resolveu salvar e condenar, declarar sua misericórdia e sua justiça punitiva, e ilustrar a glória de sua graça salvadora , e de sua sabedoria e poder que concordam com aquela mais livre graça.(...) Os eleitos não são chamados "vasos de misericórdia" na relação de meios para o fim, mas porque a misericórdia é a única causa motriz, pela qual é feito o próprio decreto da predestinação para salvação." (Works, vol 2: On predestination to salvation)

e) Que ele cria na imperdibilidade da salvação

"Embora eu aqui, aberta e sinceramente, afirmo que eu nunca ensinei que um verdadeiro crente pode, total ou finalmente, abandonar a fé, e perecer; todavia não nego que haja passagens da Escritura que me parecem apresentar este aspecto; e as respostas a elas que tive a oportunidade de ver não se mostraram, em minha opinião, convincentes em todos os pontos. Por outro lado, certas passagens são fornecidas para a doutrina contrária [da perseverança incondicional] que merecem especial consideração." (Works, vol 1: The perseverance of the saints).

De minha parte, ficaria muito feliz se os atuais arminianos firmassem posição com Jacó Armínio. Pois já estaríamos no lucro.

Por Clóvis Gonçalves

Fonte: Cinco Solas

Onde estão os finados?



Onde estão os finados?

2 de Novembro é "dia de finados" no Brasil. Boa oportunidade para se fazer a pergunta acima. Eu sei que a resposta óbvia é "enterrados no cemitério", mas eu me refiro à alma dos finados. A resposta bíblica pode ser resumida em alguns pontos, que não pretendem ser exaustivos, mas que representam o pensamento evangélico histórico e reformado sobre o que acontece após a morte.

1 - Imediatamente após a morte, as almas dos homens voltam a Deus. Seus corpos permanecem na terra, onde são destruídos. 

2 - As almas dos finados não caem em um estado de sono ou de inconsciência após a morte. 

3 - As almas dos salvos em Cristo Jesus entram em um estado de perfeita santidade e alegria, na presença de Deus, e reinam com Cristo, enquanto aguardam a ressurreição de seus corpos. 

4 - Esta felicidade não é impedida pela memória de suas vidas na terra, uma vez que agora eles consideram tudo à luz de perfeita vontade de Deus e do Seu plano perfeito. 

5 - Sua felicidade e salvação é somente pela graça de Deus. Eles não têm poder de interceder pelos vivos ou tornar-se mediadores entre eles e Deus. 

6 - As almas dos perdidos não são destruídas após a morte, mas entram em um estado de sofrimento consciente e de escuridão, tirados da presença de Deus, enquanto esperam o dia do julgamento. 

7 - Não há outros estados além destes dois após a morte. Não há qualquer base bíblica para a doutrina do purgatório e nem da reencarnação.

8 - Nem as almas dos salvos nem as dos perdidos podem voltar para a terra dos vivos após a morte. Todas os fenômenos considerados como a ação de almas desencarnadas deve ser atribuída à imaginação humana ou à ação de demônios.

A realidade da morte e da sobrevivência da alma deveria nos lembrar sempre das palavras de Jesus: "De que adiante ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?"

Expiação Limitada - O sacrifício eficaz de Cristo



Quais são as motivações que levam homens ou anjos caídos a distorcerem bases e pontos cruciais da sã doutrina de Deus e dos apóstolos, tornando-as falsas? Quais são os benefícios em deturpar as Sagradas Escrituras ao ponto de amenizarem ao extremo a grandiosidade da glória de Deus em todos os seus efeitos? Se é que isto é possível. Quais são as consequências em manter ensinos não bíblicos e desprezíveis, em ministérios já reprovados por Deus que são inutilmente arrastados por forças meramente humanas? Sejam lá quais forem às respostas bíblicas para o caos; certo é que, Deus julgará a todos e seus atos (Rm 2:6). Tal justiça infalível cairá sobre todos os falsos mestres; pois quem escapará das mãos do Deus vivo? (Is 43:13). Ou quem estará oculto aos olhos do Senhor? (Hb 4:13). Consequências essas que levam nossos pequeninos, os novos na fé e até nossas crianças tropeçarem nos caminhos do reino eterno; não que Deus não tenha predestinado todas as coisas, Ele indiscutivelmente é o Senhor da história. Mas que esta verdade soberana conforte nosso coração e nos encoraje a defender e ensinar as doutrinas da graça, pela qual fomos chamados: “Mas se alguém fizer tropeçar um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe seria amarrar uma pedra de moinho no pescoço e se afogar nas profundezas do mar. Ai do mundo, por causa das coisas que fazem tropeçar! É inevitável que tais coisas aconteçam, mas ai daquele por meio de quem elas acontecem!” MT 18:6-7.

A Expiação Limitada foi assim realizada porque ainda que Deus tenha resolvido salvar da condenação certo número de homens, Ele tem como próprio atributo, plena santidade e justiça; exigindo que o pecado seja punido (Sl 145:17). Como os escolhidos de Deus são pecadores, uma expiação completa e perfeita seria necessária (Rm 3:23). Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem, suportou o castigo merecido pelos pecadores e obteve a salvação para os eleitos de Deus; suas ovelhas e seu povo, onde justificou e lavou as iniquidades deles, pois Ele levou o pecado de muitos (Is 53:4,6,8,11-12). A expiação foi pelo sangue derramado do cordeiro sem mácula, escolhido antes da criação do mundo, um sacrifício perfeito e agradável a Deus (1 Pd 1:18-21). O ato salvou da condenação da morte e do pecado aqueles que foram e são eleitos por Deus. Os que foram escolhidos por Deus Pai e dados ao Filho precisavam ser redimidos para serem salvos (Rm 8:29-30). Para assegurar sua redenção, Cristo veio ao mundo e tomou sobre Ele próprio a natureza humana, para que pudesse identificar-se com os seus eleitos e agir como seu representante ou substituto (Jo 1:14). Cristo, agindo em lugar do seu povo, guardou perfeitamente a lei de Deus e dessa forma produziu uma justiça perfeita a qual é imputada aos eleitos ou creditada a eles no momento em que são trazidos por graça, mediante a fé (Ef 2:8-9). Através do que Cristo fez, esse povo é declarado justo diante de Deus. Os eleitos são libertos da culpa e condenação, como resultado do que Cristo sofreu por eles (Rm 8:1-2). Através do sacrifício substitutivo, Jesus sofreu a penalidade dos pecados dos eleitos e assim removeu a culpa deles para sempre. Assim, quando seu povo é unido a Ele pela fé, é atribuído a eles perfeita justiça pela qual ficam livres da culpa e condenação do pecado. São salvos não pelo que fizeram ou irão fazer, mas tão somente pela graça, mediante a fé na obra redentora de Cristo. A obra redentora de Cristo foi definida em desígnio e realização. Foi planejada para render completa satisfação em favor de certos pecadores específicos; que assim assegurou a salvação para esses indivíduos e para ninguém mais, Cristo morreu por seu povo (Mt 1:21). A salvação que Cristo adquiriu para o seu povo inclui tudo que está relacionado ao processo de restaurar e conduzir os eleitos a um pleno e correto relacionamento com Deus, incluindo os dons da fé e do arrependimento (At 11:17-18). Deus não deixou aos pecadores a decisão de escolher se esta eterna e eficaz obra de Cristo será ou não efetiva. Pelo contrário, todo aquele por quem Cristo morreu será infalivelmente salvo. A redenção, portanto, foi designada para cumprir o propósito divino da eleição, pois a salvação definitivamente pertence ao Senhor (Jn 2:9; Ap 7:10).

Na Confissão de Fé de Westminster podemos compreender melhor a cerca do propósito de Deus em relação a sua Expiação Limitada:

“Cristo, com toda a certeza e eficazmente aplica e comunica a salvação a todos aqueles para os quais ele a adquiriu. Isto ele consegue, fazendo intercessão por eles e revelando-lhes na palavra e pela palavra os mistérios da salvação, persuadindo-os eficazmente pelo seu Espírito a crer e a obedecer, dirigindo os corações deles pela sua palavra e pelo seu onipotente poder e sabedoria, da maneira e pelos meios mais conformes com a sua admirável e inescrutável dispensação (Cap.8, Par.8).”

 No entanto por quem Cristo morreu?

Cristo morreu por muitos (Is 53:11-12; Mt 20:28, 26:28; Mc 10:45; Hb 2:10,  9:28); morreu por seu povo (Is 53:8; Mt 1:21; Jo 11:50); morreu por quais antes conheceu (Rm 11:2); morreu por aqueles a quem orou e intercedeu junto ao Pai (Jo 17:9; Rm 8:34); morreu para salvar os quais estavam perdidos (Lc 19:10); morreu por suas ovelhas (Is 53:6; Jo 10:11, 15); morreu por aqueles que conhecem o seu Pastor (Jo 10:14); morreu por aqueles que ouvem a sua voz e o seguem (Jo 10:27); morreu por sua igreja (At 20:28; Ef 5:25); morreu por seus escolhidos (Mt 22:14; Ef 1:4; Rm 8:33); morreu por seus eleitos (Rm 8:30-34); morreu por aqueles a quem o Pai atraiu (Jo 6:44); morreu por aqueles a quem o Pai lhes-deu (Jo 6:37-39, 10:29, 17:1-2, 6-9, 24; Hb 2:13); morreu pelos que foram chamados (1 Co 1:24-26; 2 Tm 1:9; 1 Pd 2:9); morreu por aqueles que preparou muitas moradas (Jo 14:2-3); morreu por seus amigos (Jo 15:13); morreu por todos que viriam a crer (Jo 17:20; Rm 3:22); morreu por aqueles que o temem (Lc 1:50); morreu por nós cristãos (Rm 5:8; Gl 1:4; 1 Ts 5:10; Tt 2:14); morreu pelos quais recebeu ( 1 Co 15:3); morreu pelos filhos de Deus (Jo 11:52; 1 Jo 5:4-5; Hb 2:14); morreu por aqueles a quem amou (1 Jo 4:10); morreu por aqueles cujos pecados tirou (Hb 9:28); morreu por aqueles nos quais compraste para Deus; homens de todo tipo, tribo, língua, povo e nação (Ap 5:8-9); morreu por uma multidão de pessoas (Ap 7:9-10); morreu por aqueles que foram comprados dentre os homens (Ap 14:4).

E por quem Cristo não morreu?

Cristo não morreu pela descendência da serpente (Gn 3:15); não morreu pelos desconhecidos Dele (Sl 147:19-20; Mt 7:23, 11:25-26, 25:12; Cl 1:26); não morreu pelos escribas e fariseus, hipócritas (Mt 23:29-33); não morreu pelos bodes (Mt 25:32-34); não morreu por todas as pessoas do mundo (Jo 17:9);  não morreu pelos que estão de fora (Mt 4:11-12); não morreu pelo joio (Mt 13:27-30); não morreu pelos peixes ruins (Mt 13:48) não morreu pelas virgens insensatas (Mt 25:1-13) não morreu pelos vasos de ira, preparados para perdição (Rm 9:22); não morreu pelos destinados a ira (Ef 2:3; 1 Ts 5:9);  não morreu pelos desobedientes, para os que também foram destinados (1 Pd 2:8); não morreu pelos nascidos para a destruição (2 Pd 2:12); não morreu pelos que saíram do nosso meio, pois não eram dos nossos (1 Jo 2:19); não morreu pelos apóstatas e falsos mestres, que jamais podem chegar ao conhecimento da verdade (2 Tm 3:1-7); não morreu pelos ímpios destinados á perdição (Jo 17:12; Jd 4); não morreu pelos perversos (Dn 12:10); não morreu pelos falsos profetas, nem pelas árvores más (Mt 7:15-19); não morreu por aqueles que não compreendem a tua voz, os que são do diabo (Jo 8:43-44); não morreu pelos que vivem na prática do pecado, os que procedem do diabo (1 Jo 3:8); não morreu por aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro desde a fundação do mundo (Ap 13:8, 17:8).

A doutrina bíblica apresentada foi formulada e aceita pelo Sínodo de Dort (1618-1619); mesmo após as investidas arminianas que foram consideradas hereges por ensinar sobre a expiação universal, falharam ao tentar mesmo que impropositálmente, denegrir a imagem e a glória de Cristo.  A Expiação Limitada hoje também está registrada nos Cânones de Dort; uma forte defesa apologética, uma herança valiosa para os cristãos da atualidade:

“Pois este foi o soberano conselho, a vontade graciosa e o propósito de Deus o Pai, que a eficácia vivificante e salvífica da preciosíssima morte de seu Filho fosse estendida a todos os eleitos. Daria somente a eles a justificação pela fé e por conseguinte os traria infalivelmente à salvação. Isto quer dizer que foi da vontade de Deus que Cristo por meio do sangue na cruz (pelo qual Ele confirmou a nova aliança) redimisse efetivamente de todos os povos, tribos, línguas e nações, todos aqueles e somente aqueles que foram escolhidos desde a eternidade para serem salvos, e Lhe foram dado pelo Pai. Deus quis que Cristo lhes desse a fé, que Ele mesmo lhes conquistou com sua morte, junto com outros dons salvíficos do Espírito Santo. Deus quis também que Cristo os purificasse de todos os pecados por meio do seu sangue, tanto do pecado original como dos pecados atuais, que foram cometidos antes e depois de receberem a fé. E que Cristo os guardasse fielmente até ao fim e finalmente os fizesse comparecer perante o próprio Pai em glória, "sem mácula, nem ruga" (Ef 5:27).” 2° Capítulo da Doutrina: Artigo 8 – A eficácia da morte de cristo.
  
Somente a Expiação Limitada exalta Cristo como salvador. A idéia de que Cristo morreu por todos os homens da terra; mas que muitos não serão salvos, denigre a obra salvífica de Cristo. Esse ensino diz que Cristo não fez o suficiente no seu sofrimento e morte para nossa salvação, e que algo mais é necessário, como boas obras ou atitudes humanas. Ele diz que Cristo morreu por todos, mas que alguns ainda irão para o inferno. Se isso fosse verdade; o sangue de Cristo teria sido derramado em vão por alguns, e sua morte seria inútil para eles, caso contrário todos os homens da terra seriam salvos, mas sabemos que não serão. Então sua morte não teria sido realmente um resgate, uma expiação, ou uma satisfação pelo pecado, nem teria nos reconciliado com Deus e pagado a dívida. Se cristo morreu por todos os homens e; todavia alguns ainda não são salvos, e se a diferença são as boas obras ou a livre escolha da pessoa, então o que realmente importa na nossa salvação não é a morte de Cristo, mas nossas atitudes ou escolhas. Então nossa salvação não depende Dele, mas de nós. O ensino de que Cristo morreu por seu povo eleito, aqueles a quem o Pai lhe deu, significa que Ele fez tudo o que era necessário para salvação deles mediante seu sofrimento e morte, e que nada mais é necessário. Assim sua morte é realmente uma expiação, reconciliação, pleno pagamento pelo pecado, resgate e satisfação. Ele realmente salva, e salva completamente, aqueles por quem morreu. Vergonhoso e triste é os que se dizem cristãos e continuam pregando que Cristo morreu por todos os habitantes da terra. Quando dizem que a expiação foi ilimitada, dizem que o sangue do cordeiro não foi suficiente para salvar.
  1.  “Vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie.” Ef 2:8-9. A fé salvadora que vem de Deus e derrama a graciosa salvação; não é por escolha, mérito ou obra alguma do homem miserável. Caso contrário não poderia ser de graça!
  2. “tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus.” Hb 12:2. Cristo é o autor e consumador da nossa fé. Foi Ele quem nos deu e nos faz ter fé. Não somos nós que nos convertemos, é Cristo que nos converteu!
  3. “pois a vocês foi dado o privilégio de não apenas crer em Cristo, mas também de sofrer por ele,” Fp 1:29. A fé é um privilégio salvífico de Deus e não uma conquista humana!
  4. “Orem também para que sejamos libertos dos homens perversos e maus, pois a fé não é de todos.” 2 Ts 3:2. Sabemos que nem todos serão salvos; a fé não é para todos. Não adianta esforços humanos, por mais que por mandamento tenhamos que nos esforçar. Muitos não vão crer no filho de Deus!
“Aquele que diz que cristo derramou o precioso sangue em favor de todos; denigre o sacrifício perfeito, agradável, salvífico e satisfatório do Cordeiro de Deus. Se o sangue fosse derramado em favor de todos, todos seriam salvos. Não tem como o sangue ser derramado e ainda existir dívida, não existe sacrifício perfeito e pessoas serem condenadas.”

Vejamos agora o que as Escrituras realmente dizem usando as palavras “mundo” e “todos”:
  
A palavra mundo tem diferentes significados ao longo das Escrituras, por ambiguidade ou dependendo do contexto podem significar: o universo material ou a terra habitável, o povo do mundo, todos sem exceção, todos sem diferença, muitos homens, a maioria dos homens, o Império Romano, homens bons, homens maus, o mundo como um sistema corrupto, a condição humana, o reino de satanás.

No que se refere ao argumento universalista existem vários versículos que aparentam dizer que Cristo morreu para salvar todas as pessoas da terra, usando a palavra “mundo”; vejamos alguns:

“No dia seguinte João viu Jesus aproximando-se e disse: "Vejam! É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” Jo 1:29. Aqui o texto não se trata de uma afirmação universal de salvação, o termo "mundo" é usado aqui para representar a humanidade como um todo em sua hostilidade para com Deus; mundo aqui significa todos os povos, tribos, raças e nações e não todas os seres humanos da terra.

“Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.” Jo 3:16. Alguns têm empregado essa frase para sugerir que a morte de Cristo fez expiação por todos os seres humanos, e baseiam essa concepção na idéia de que Deus ama todos da mesma maneira e com a mesma intensidade. É verdade que o novo testamento ensina que a oferta do Evangelho é para todos por graça; pois todos são convidados a compartilhar Cristo, mas mesmo sendo chamados, nem todos são escolhidos. No entanto, em outras passagens, o fato é esclarecido que a expiação de Cristo foi planejada somente para os eleitos. O evangelista usou a palavra "mundo" no aspecto de que a obra salvadora de Cristo não estava limitada aos Judeus, mas se aplica ás pessoas em todo o mundo, ou seja, agora aos eleitos de todos os povos.

“Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos pecados de todo o mundo.” 1 Jo 2:2. João menciona que não só aos leitores crentes destinatários teriam pecados cancelados, mas de crentes de todo o mundo. Isso não sugere que a morte de Cristo resgata os pecados de todas as pessoas. Em vez disso, ensina que Ele é a única propiciação pelo pecado que está disponível em todo o mundo. Cristo salva e tira o pecado dos eleitos de todas as partes do mundo.

No que se refere ao argumento universalista existem vários versículos que aparentam dizer que Cristo morreu para salvar "todos" os homens da terra; vejamos alguns:

Pois o amor de Cristo nos constrange, porque estamos convencidos de que um morreu por todos; logo, todos morreram.” 2 Co 5:14. Neste caso "todos" se referem "todos nós que morreram em Cristo e agora vivemos nele".

“Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens.” Tt 2:11. Não apenas para o povo Judeu "todos" aqui significam; sem distinção de raça, idade, sexo ou classe social. Cristo morreu por todos os homens sem distinção, não por todos os homens sem exceção.

“O Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Ao contrário, ele é paciente com vocês não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento.” 2 Pd 3:9. Pedro queria que os seus leitores cristãos percebessem que a demora do julgamento divino era um sinal de paciência e misericórdia de Deus com respeito a eles; particularmente com respeito aos cristãos no meio deles que haviam sido confundidos e desviados pelos falsos mestres. Aqui a palavra "todos" está relacionada com a palavra "convosco". O motivo pelo qual Deus adia o julgamento é o fato de que Ele deseja que não somente o seu povo chegue ao arrependimento, mas as pessoas do mundo em geral. Não é da vontade de Deus que alguns de seus eleitos pereçam.

A Teologia Sistemática de Louis Berkhof diz a respeito da Expiação Limitada:

“Pode-se estabelecer, primeiramente, como princípio geral, que os desígnios de Deus sempre são seguramente eficazes e não podem ser frustrados pelas ações do homem. Isto se aplica também ao propósito divino de salvar os homens por intermédio da morte de nosso Senhor Jesus Cristo. Se fosse Sua intenção salvar todos os homens, este propósito não poderia ser frustrado pela incredulidade do homem. Admite-se por todos os lados que são os salvos pecadores em número limitado. 

Consequentemente, estes são os únicos que Deus determinou-se a salvar. A Escritura qualifica repetidamente aqueles pelos quais Cristo entregou Sua vida de tal maneira que indica uma limitação muito definida. Aqueles por quem Ele sofreu e morreu são variadamente chamados Suas "ovelhas"; "minhas ovelhas" (Jo 10:11, 15, 26); Sua "Igreja" (At 20:28; Ef 5:25-27); "o seu povo" (Mt 1:21) e "os eleitos” (Rm 8:32-35). A obra sacrificial de Cristo e Sua obra intercessória são simplesmente dois aspectos diferentes da Sua obra expiatória e, portanto, o alcance de uma não pode ser mais amplo que o da outra. Ora, Cristo limita mui definidamente a Sua obra intercessória, quando diz: "não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus" (Jo 17:9). Por que limitaria Ele a Sua oração intercessória, se de fato pagou o preço por todos?” Página 607.

Muitos levantam dois pensamentos errôneos ao se deparar com a doutrina da graça apresentada até então:

“Então ele dirá aos que estiverem à sua esquerda: 'Malditos, apartem-se de mim para o fogo eterno, preparado para o Diabo e os seus anjos.” Mt 25:41. O texo diz claramente que o inferno foi feito para satanás e seus anjos. Isto não significa que não foi feito também para homens; pois nos escritos originais em grego, podemos perceber que anjos (ἄγγελος),significa mensageiros. Todos os seres espirituais ou homens que são mensageiros de satanás tem seu lugar reservado no inferno. Portanto, Cristo não morreu por tais “anjos”.

”Pois em Deus não há parcialidade.” Rm 2:11. Muitos dizem que Cristo morreu por todas as pessoas em sua totalidade por que Deus não faz acepção de pessoas. Mas digo quo o texto em seu contexto relata que agora em Cristo não apenas os Judeus terão salvação, mas pessoas de todos os tipos e raças. Ele não tem parcialidade entre os seres humanos, Deus chamará gente independente de etnia ou qualquer distinção natural.

Uma questão a ser observada entre os cristãos, principalmente os reformados. É a total falta de respeito para com os propósitos de Deus; muitos julgam pessoas como eleitas e não eleitas, tratando-as até com indiferença, cheios de prepotência e cheias de si. Uma lição bíblica que podemos observar para evitar erros semelhantes; é o fato de somente Deus conhecer os seus eleitos, apesar de todas as evidências de fé e bons frutos que alguém possa produzir por obra de Deus. Judas Iscariotes foi um exemplo de um que andava com Cristo; era apóstolo escolhido a dedo e todos tinham ele como um escolhido de Deus, mas logo foi revelado como traidor e filho da perdição. Ao contrário; temos o caso do ladrão da cruz, que não foi corretamente político se assim podemos dizer, e cometeu barbaridades por toda a vida. Tendo pena de cruz e sendo escória da sociedade, foi revelado como eleito em seus últimos suspiros e agraciado por Deus por uma fé salvadora. Glórias a Deus por fatos marcantes na história e que sirvam para nossa reflexão.

Oremos irmãos para que gerações sejam reformadas e que sempre estejam em reforma, pois esta é a proposta da reforma protestante e teológica. Oremos para que as lideranças retornem para as Escrituras, busquem conhecimento, estudem as doutrinas maravilhosas da graça de Deus e ganhem preciosos tempos de oração. Oremos para que Deus continue convertendo corações obstinados, pecadores perdidos, cegos e mortos em seus prórpios delitos e pecados. Oremos por uma igreja que não se deixe enganar por ventos de doutrina, modismos contemporâneos, falsos sentimentalismos, emocionalismos sem sentido e camuflagens diabólicas. Oremos por homens e mulheres destemidos que poem suas cabeças a preço, mas que não deixam de pregar e ensinar as verdades de Deus. Oremos para que apesar de tudo, Deus seja glorificado por toda eternidade e que os Eleitos do Senhor tenham a certeza de que Cristo expiou todos os nossos pecados para nossa salvação. Assim temos a certeza de que:

“Todo aquele que o Pai me der virá a mim, e quem vier a mim eu jamais rejeitarei.” Jo 6:37

“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos.” Jo 15:13

“Eu rogo por eles. Não estou rogando pelo mundo, mas por aqueles que me deste, pois são teus.” Jo 17:9

Por Lucas Tadeu Sobreira